LUAR DE IMBETIBA

Psicanálise de uma cidade / Por José Milbs

ME APOSENTEI E NADA MUDOU DESTE 1976 ATE 2006

*O CRU CRU EU ENTRO

No jogo do "Cru, Cru Eu Entro", jogavam Djecila, Therezinha, Matheus, "Mundinho", Fernando, Nelsinho e. Darcirene de Darcílio e Irene. As vezes Clyce e as vezes Eliete, Nelson, Cléa de dona Lalate e, olhando de lado, com vontade de entrar, mais sendo mais velhas, Déa e Mazinha. Mazinha veio a casar com Jorge "Paco - Paco".

Déa com Francisco, foi para Cabo Frio e teve uma linda filha que recebeu o nome de Isabel Cristina. Claro que numa homenagem a personagem da novela de mamãe Dolores. De dona "Cotinha" as filhas Helia, Therezinha, "Nenen",. Antonia, Nice e a meiga e simpática "Mariazinha" formavam nossas tardes noites de encantos em rodas de piques e passa -passa.

Lenice Sucena, Lenita eram outras que brincavam na Rua do Meio embora morassem na Travessa Curindiba de Carvalho, onde ainda residem como visinhas de Edyr Backer, "Barretinho" e "Zézinho" Crespo e Oneida Terra.

A tarde noite já ensaiava os acordes da passarinhada, os pirilampos já caminhavam para cantos mais negros da noite para que seu brilho se tornasse mais lindo e de difícil pegar das crianças. Enquanto morcegos e mariposas brincavam de ciranda ao redor do único poste que, com sua luz bem fraquinha simbolizava que a Rua do "Meio" estava entrando no mundo da eletricidade. Era o ano de mais ou menos 1948.

Ao longe, após alguns alegres "Boa Noite", se podia ouvir o cantar de alguns meninos que marcham em direção aos Cajueiros. É um cantar descontraído, desconformes mais que entra pelo ar em forma de beleza pura.

"Calango tango do Calango da Lacraia, 
meu cavalo come milho 
sua égua come palha.

E lá vão eles cantarolando, passando por transeuntes que, hoje no infinito, devem habitar. Foram homens e mulheres que preencheram vidas infantís neste raro momento de alegres risos e cumprimentos.

calango tango... 
do calango da lacraia...

Enquanto os gaguejantes sons da musica iam se misturando a assobios que formavam uma pequena iniciação de uma orquestrada sinfonia, se perdendo no silencio que toma conta da cidade sob o brilho de estrelas e cantar de bacuráus da noite.

Por detrás daquele morro, 
passa boi, passa boiada. 
Também passa a moreninha 
com cabelos cacheados.

2

UM POUCO DA HISTÓRIA

Hélia se casou com Abel Mathias Netto que foi para o "Jornal do Brasil" onde se aposentou e voltou para Macaé e mora no Bairro da Glória. Bairro que fica uma entrada antes da entrada do "Novo Cavaleiro" apelido que deram ao Bairro "Molambo" onde moro atualmente. Sempre é visto Com seu andar tranquilo e silencioso quando se dirige as padarias e mercadinhos.

Abel durante muito tempo trabalhou no "Jornal do Brasil" e me fez recordar um fato que tentarei escrever:

Nos fins dos anos 60, eu ainda trabalhava no INAMPS. Fazia um trabalho relacionado com GIH que era onde se processavam todos os pagamentos dos hospitais que tinham Convênios com o Ministério da Saúde. Tranqüilamente ia assinando as guias e passava para o Médico Chefe do PAM para autorizar os pagamentos.

Um fato curioso me despertou a curiosa suspeita de que havia cheiro de corrupção. Duas guias de GIH com "extração de abscessos na perna esquerda" de duas meninas de Conceição de Macabú. Separei as fichas e liguei para a chefe da época. Depois de muita luta e "tentativas de evitar escândalos" resolveram apurar e fomos a Macabú. Constatamos que a família nunca tinha sido operada e mais umas 6 pessoas da família tinham sido usadas para este tipo de maracutaia.

Segundo a senhora mãe ela tinha ido ao "Hospital Ana Moreira" para uma simples consulta e um "bondoso" médico lhe pediu as l0 carteirinhas para trazer em Macaé e revalidar. Foram 10 operações que o hospital criou com estas carteiras Todas operações frias. Falamos com o Supervisor Médico, foi aberto um Inquérito Administrativo.

Meses depois o chefe da Secretaria de Assistência Médica e a chefe do INPS de Macaé receberam o titulo de "Cidadania Macabuense" e eu quase que fui assassinado por um bigodudo de Conceição de Macabú Um pobre e infeliz "pau- mandado" pela sociedade protetora do hospital que lhe pôs na cabeça que eu, "um homem de cabelos brancos estava querendo fechar o hospital".

-Olhe a inversão de valores já naquela época (1975).Os caras roubam a Previdência, falsificam documentos, recebem dinheiro do Governo em falcatruas, são descobertos e eu que, descobrindo o delito fui acusado de "querer fechar o hospital da cidade" Ainda bem que isto faz parte de um tempo que não parece voltar mais na Previdência Social.(pior que voltou pior nos anos 2006).

Este bravo "defensor da cidadania e da corrupção" invadiu a casa do velho José da Cunha Barreto a minha procura. Revolver 38 em punho. Confundiu-me com Walter Fernandes que tinha cabelos brancos. Ainda bem que nem Waltair estava em casa...

Soube deste fato e tomei minhas providências. Passei a andar com vários amigos e continuei a minha luta na Imprensa contra os desmandos administrativos no Ministerio da Saúde onde estou aposentado.

Abel colocou o incidente no JB, por debaixo dos panos, já que o jornal tinha forte censura e a corrupção também naquela época era uma constante nos governantes.

Aposentaram-me com um diagnóstico que, na verdade era uma "Incompatibilidade com o Serviço Público". O que trocado em miúdos, era o meu afastamento visual de tantas e outras que se fizeram na Previdência que a levou a bancarrota nacional e seu acocoramento as prefeituras na criação do atual SUS.

3

A coisa correu frouxo e ainda corre dentro do Ministério da Saúde. Enriquecimento com faturas frias tornou-se um ato corriqueiro e até oficial.

Deixo de citar nominalmente as pessoas por que um dos autores da fraude morreu num desastre, o bigodudo tambeém se foi e, alguns médicos ainda vivem amparados pelo poderio econômico que fizeram eu outros nosocômios. Até porque hoje nos cumprimentamos cordialmente.

O nome do Diretor Médico do Estado que recebeu as honrarias era Pache Faria. Que patifaria. Coisas do passado que acho que ainda grassa na vida Pública Macaense de onde saí para não mais voltar.

Me aposentei depois deste fato, dizem as línguas cumpridas de alguns compadres e comadres envolvidas com alguns deste médicos, que minha a aposentaria tem um fundo meio de maluco.

De fato eu devia ser mesmo maluco para não aceitar o jogo sujo de uma época de triste recordação e que ainda teima em existir no Ministério da Saúde. Médico dormindo em plantão para estar inteiro pela manhâ em suas clínicas particulares; gente pobre gemendo em camas de repouso pelas madrugadas; pedidos de GIH frias e faturas frias; morte de crianças por falta de atendimento. Enfim, uma gama de irresponsabilidade que leva qualquer um mesmo a loucura.

Nota do Autor 
*Cru cru eu entro é uma brincadeira de criança que meus bisavos criaram (tipo purrinha de hoje). Só que a gente jogava com caroços de Milho assado no Fogão de Lenha. Quem acertava o total de caroços levava tudo das maõs das crianças que jogavam. Nao podia por mais de 10 caroços e nao podia sair de lona(o que se pode sair na purrinha).

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