ECILA

José Milbs

Capítulo III

Fazendas do município de Macaé e cortava uma grande e rica região de madeira e agro pecuária na região de Conceição de Macabú. A venda da Fazenda e, após a divisão das partes hereditárias, feitas pelo doutor Camilo Nogueira da Gama advogado do espólio e grande amigo de seu pai Mathias, deixou para Ecila um mundo novo a ser vivenciado. Embora tratada na cidade nos anos 20 e inicio dos 30 como a filha do capitão Mathias Coutinho de Lacerda ela não deixava de sentir a latente ausência de seu pai. Colégio, sempre primeira aluna. Diziam que muito levada e sem atenção parecendo já saber antecipado as coisas que dona Irene Meireles ministrava. Sempre sentada ao lado de sua prima Maria Angélica Ribeiro da Silva, Ecila ia se adaptando ao mundo das segundas letras já que as primeiras letras ela e Angélica tinham aprendido com seu primo Pierre e sua mãe Nhazinha que tinham aberto um colégio onde os dois ministravam aulas.

Macaé era uma cidade igual a todas as cidades nos anos em que Ecila fez 10 anos. Parecia que o tempo na passava. Dois anos sem seu pai. Sua mãe indo e vindo na Igreja onde se tornou membro do Sagrado Coração de Jesus. Seus avós lhe contando as histórias de Quissamã, Capelinha do Amparo, Cabo Frio, Rodagem e Carapebus. De vez em quando indo na casa de Chico Lobo ouvir as histórias de Conceição do Rio Macabú e Cachoeira de Macaé. Ecila sabia de cor os nomes de todos os velhos moradores de Bicuda Grande, Bicuda Pequena, rodagem, Capelinha do Amparo, Paciência, Rio Dourado e Macabuzinho..Sentada na sala de Chico Lobo, com seus primos ou na casa de Chiquinha Prata em Carapebus o assunto sempre fluía para as dissertações dos cavaleiros destas localidades e sua gente...

Aos dez anos seus pensamentos se embaralhavam de forma ainda primitiva para uma menina de sua idade A Rua da Boa Vista, onde nasceu e deu seus primeiros passos, tinha a beleza que vinha, ou do Rio Macaé que banhava o quintal de sua casa ou das alegres idas à casa de Pastora de Brandina e de dona Elisa Diniz. Estas senhoras faziam tudo para que Ecila não sentisse tanto a falta de “Seu Mathias” e deixasse que dona Nhazinha não a visse sofrer a saudade. Sabiam que a própria Nhazinha era um só sofrimento. Sempre dentro de seu luto fechado ia e vinha da Igreja, cuidava dos pais e Ecila não via faltar nada.

A Rua da Boa Vista ficava perto de onde as boiadas passavam e a criançada fazia festa nestas tardes noites. Brincadeiras, como mexendo com “Tuiú” um homem que, com sua perna rastejante pela ferida que carregava há anos, corria atrás das crianças quando era provocado. Nessas brincadeiras infantis iguais em toda criança e em todas as épocas do mundo, Ecila ia cimentando uma espécie de esquecimento da ausência paterna que só era mais lembrando nos sonhos que procurava entender ou falar com sua avó quando acordava. Sempre era nos sonhos que Ecila podia rever o pai...

Um dia ela sonhou com ele e já não o via como morto. Era um sonho que parecia uma seqüência do dia a dia. Falava com ele. Passeava de cavalo. Ia visitar os velhos amigos dele em Cabo Frio, Rio Dourado, Búzios, São Pedro D.aldeia e Casimiro de Abreu. Quando acordava se sentia feliz. Era como se ele tivesse vivo e fazendo-se presente nela e dela lhe passando à mesma maneira de se preocupar e aconselhar no tempo em que ele ainda vivia e ela com ele era acalentado ao colo. Ultimamente nem contava mais os sonhos para ninguém. Ficou sendo apenas dela e de seu pai este mundo maravilhoso que habitava suas noites de menina...


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