Uma cidade penitenciária para os políticos corruptos do Brasil

penitenciaria

Sentado na minha velha rede. Olhando ao redor do meu universo. Sentindo o estrago do terceiro vendaval que bate no Novo Cavaleiro. Cheirando a mistura de "Dama da Noite" com Jasmim. Em Campos dos Goitacazes, terra de meus avós Gama, tomo conhecimento da prisão de Secretários do Prefeito (de lá) que fugiu a mulher (dele lá) agride repórteres. Penso: "ainda bem que não foi em Macaé. Seria uma vergonha saber que esta cidade onde nasci, onde nasceu Washington Luiz, Luiz Lawrie Reid, Claudio Moacyr de Azevedo, Desembargador Ronald de Souza e tantos outros, tenha seus políticos dos anos 2000 envolvidos em corrupção. Não!... Macaé não tem corrupto. Isto é coisa de Campos. Ainda bem... Mas, por via das dúvidas, olhe que vem chegando uma de minhas netas...

II

Não conseguia mais ver TV. Vulgaridade, venda de bebidas que são oferecidas, sexo frio, exposição de corpos sem que respeite as crianças e velhos...

Seus pensamentos vagueiam. Seria sua idade, 70 anos, que o estava transformando num purista? Será que caduca e se transforma num sensor? Pensava e observava o vôo de 4 Bentevis que procuram pouso nos Coqueiros de sua morada. Coqueiros Imperiais que resistem há 60 anos à destruição do Bairro do Novo Cavaleiro em Macaé, cidadezinha que se acocorou ao progresso e está com suas nascentes e rios destruídos pela sanha avassaladora do ganho de grana fácil dos especuladores imobiliários.

Enquanto observa o pousar feliz das 4 aves, se volta para atender sua neta Mariana, Volta a pensar,num milésimo de segundo antes de se virar na velha rede branca que _as vezes é também cadeira:

-Lá vem esta menina com mais um de seus trabalhos de colégio buscando dissertação e idéias".

A menina se aproxima e tira de vez a sua observação nos passarinhos.

- Diga lá, minha grande neta.

Mariana estava mais séria do que das vezes anteriores. Vai direto ao assunto:

- Vô, Político é tudo ladrão mesmo? Eles têm filhos e netos? Antes das novelas, continua a menina sob o olhar pasmo de seu velho avô, eu escuto no Rádio e na TV que os senadores, os deputados, os vereadores e uma porção de juízes e desembargadores estão roubando todo o dinheiro do POVO brasileiro. Tem até a voz deles falando no telefone. Eu fiquei triste por que eles deveriam respeitar os seus filhos e netos. Já pensou, vô, se o senhor fosse político e eu visse o senhor algemado na TV? Pior, Vô é que o Prefeito de Campos, também está sendo preso por roubar o dinheiro do POVO de lá. Puxa, ainda bem que não foi em Macaé...

Enquanto acompanho a seriedade desta menina de 13 anos, volto a olhar para os passarinhos, que, agora cantam e pulam na alegria de uma fina chuva de final de verão.Mariana retruca:

- A professora do meu colégio quer um trabalho sobre o que a gente, criança, acha dos Políticos Brasileiros. Será que o senhor pode me ajudar?

Minhas mãos chegam até a cabeça. Meus cabelos estão totalmente embranquecidos. Metade, penso, pelo sereno da vida e a outra é mesmo pela genética. Meus pais e avós ficaram grisalhos aos 18 anos.

Não quero deixar que minha neta, 13 anos, veja uma lagrima de ódio que brota em meus olhos. Olha sua neta que, na sua inocência acha que pode obter justiça neste sistema que vivemos. Justiça num país de injustiças.

Volta-se e, como se já tivesse na mente tudo que seria dito e escrito pela menina em seu trabalho escolar e sentencia:

- Quem sabe, um dia, quando este sistema que está agonizando e que fez muita crueldade acabar, a gente não pega toda esta gente que roubou, matou trabalhadores, explorou as pessoas, discriminou velhos e crianças, escreveu novelas para desviar a beleza e a pureza de milhares de jovens, políticos que enriqueceram com dinheiro do POVO , juízes e desembargadores que venderam sentenças, enfim toda esta gentalha imunda e cruel e os confinemos numa CIDADE PRESIDIO?

- Como assim, vô? Cidade Presídio?

-Sim. Uma cidade presídio. Mariana, vamos imaginar uma cidade quando você tiver 20 anos. Uma grande cidade, com estrutura bem reforçada em muros altos e eletrificada (iguais às casas dos políticos e dos juízes e desembargadores que estão sendo descobertos, presos e soltos), Cidade com um forte esquema de segurança externa. É uma idéia que tive quando você falava quando aqui chegou.

- Sim, agora já estou entendendo, reforça Mariana.

-Ótimo. Bom que você entenda por que na sala de aula você terá que, quem sabe, ler o texto para seus colegas e para isso terá que saber esta minha idéia que, a partir de agora, será sua também.

-Só uma coisa, interrompe a menina que se aconchega ao lado do avô: Seria uma cidade presídio imaginária? Não dá para a gente colocar também as pessoas que roubam nas Prefeituras e ficam esnobando e maltratando as crianças pobres que os pais trabalham de verdade?

Eu sempre me orgulhei de meus filhos e agora dos netos. Todos estudando, como ele, em Colégios Públicos. Mas esta sua neta estava ali, a sua frente, sem nunca ter lidos os livros que ele absorve e lhe dá substância ideológica. Estava ali, dando subsídios para a transformação desta sociedade... Antes mesmo que seus pensamentos pudessem se desviar para um galo vermelho que canta no jardim, fala:

- Sim minha doce menina, esta Cidade Presídio, além de abrigar os milhares de políticos, assessores, delegados, policiais, enfim, todos estes senhores que estão comprometidos com desvios de dinheiro publico, envolvidos em comissões de empreiteiras, vai abrigar também os que, por omissão, sabiam e permitiram que estes fatos acontecessem. E foi falando, como se estivesse num confessionário:

- Pode também colocar nesta cidade, juízes, advogados, empreiteiros, milhares de vereadores que levam propinas de empresas de ônibus, de firmas multinacionais e centenas de secretários de Estado, Ministros e ex Ministros. Marina interrompe:

- Vô, crianças e velhos vão para esta cidade presídio?

- Criança não. Velhos safados, que deram mau exemplo para os netos e para os filhos vão sim.

- Criança vai sempre olhar esta cidade, pensei aqui. Terá um grande painel de televisão, onde irá passar a vida destes homens corruptos, ladrões de gravatas. Será um filme, tipo: "Olhe o que eles fizeram e por que eles estão lá”... Como se estivesse dizendo as crianças. "Viu como eles foram cruéis? "Estes exemplos não podem ser seguidos"...

- Você está entendendo, Mariana?

-Estou sim...

-Quer dizer vô, que os velhos que deram maus exemplos, vão ficar na cidade presídio?

- Sim, minha lindinha, os canalhas também envelhecem...

- Vamos voltar a falar na nossa cidade, digo isso e volto a ouvir o cantar de um Bentevi no galho da Amendoeira.

- Seria uma cidade presídio. Aproveitando para por nesta cidade-presídio, centenas de Sindicalistas safados, presidentes de ONGs. corruptas e alguns ex Governadores. Minha preocupação, minha doce neta, é não deixar esta camarilha de Homens Públicos, que envergonham seus filhos e amigos, ficarem misturados com presos comuns. A presença destes corruptos poderia contaminar os presos comuns.

-Tava pensando nisso, alerta a menina: tem muita gente que rouba pão, manteiga, comida e eu fiquei pensando em pedir ao senhor isso que o senhor falou. Não deixar estas pessoas junto com esta gente ruim...

- Não se preocupe minha neta. Para essas pessoas que você fala, existe leis que protegem quem comete estes pequenos atos. Só que alguns magistrados e delegados de polícia, preferem prende-los e deixam soltos quem lhes dão propinas. Você não está vendo nas TVs o que eles fazem?

-Vendem sentenças para a jogatina, ganham carros do ano, vultosas quantias em dinheiros e ainda "prendem e arrebentam" quem pega, num super-mercado uma margarina. Lembra daquela jovem que ficou presa em SP por um delegado por ter expropriado uma manteiga para seu filho?

-Sim, continue que eu estou entendendo tudo que o senhor fala. Acho que vou fazer um lindo trabalho, diz Mariana, orgulhosa do avô que fala com euforia. Parecendo até que já estamos numa nova democracia...

- Me vejo aumentando o potencial de minha fala, quando alguma carreta ou buzinar de carros tentam cortar meu raciocínio. E, continuamos a conversar eu e minha linda neta:

- Como esta gentalha está totalmente viciada na corrupção, só consegue o desejo sexual com uma nota de cem nas mãos e não sabe viver sem levar uma comissãozinha de 20 ou 30 por cento, esta cidade teria em circulação notas de dólares falsos e de reais. Para eles não ficarem em depressão por falta do "ópio deles" que é roubar dinheiro do contribuinte.

- Os bens destes canalhas, homens ate velhos de cabelos brancos, que nem respeitaram seus filhos e netos, seriam todos confiscados para manter a cidade. Eles mesmos podem eleger seus dirigentes nesta cidade. Como este presídio vai ter muitos portadores de títulos de faculdades não haveria necessidade de celas especiais. Semanalmente as crianças seriam convidadas para aulas onde esses canalhas seriam mostrados em fotos como "exemplo a não serem seguidos"...

- Legal, vô, maneiro mesmo. Já entendi tudo. As crianças iriam lá na cidade presídio igual no Zoológico. Olhar a vida destes homens e mulheres que, durante anos, décadas fizeram maldades com os pobres e roubaram o dinheiro dos impostos, não é isso, vô:
- è isso mesmo. Como eles não conseguem mudar "o vicio" de roubar, etc. etc. arremato:

-Nesta cidade/presídio, haveria eleições entre eles de Vereadores a Presidente. O que você acha, minha neta, desta cidade do futuro?

Mariana, como que adivinhando o meu pensar complementa:

- Que o senhor acha de por nesta cidade as pessoas que fazem os programas de televisão? Os donos das fabricas de bebidas, cigarros e os escritores que se vendem para fazer as novelas horríveis dos horários nobres?
Momento em que eu, que tive meus pensamentos captados, penso, ao sorrir para ela que corre para o colégio levando as suas mãos o texto sobre os POLITICOS BRASILEIROS...

III

A cidade ainda dorme com suas ruas com poucos transeuntes. Colégio Público começa cedinho e as ruas estão enfeitadas com centenas de crianças que tomam ônibus, se aconchegam uns aos outros e rumam para os educandários. São coleguinhas de Mariana, meninas e meninos. Pelo vidro do ônibus ela nota que passam luxuosos carros importados com outras crianças indo para muitos dos colégios particulares que existem na cidade. Pensa em seu avô que, um dia, falou com ela: -"Mariana, criança que estuda em colégio daqueles que as crianças são levadas, são iguais estas galinhas criadas em granjas. Não pegam Sol, não brincam na chuva igual você e seus amigos. Eles são criados como se fossem feitos em cativeiros. E, lembra do arrematamento do avô, ao tempo que retorna o olhar pelo vidro do ônibus e vê alguns meninos soltando pipas no redor de uma praia. - "A culpa não é das crianças não. São de seus pais e deste sistema cruel que vem a muito matando as coisas belas do mundo.

O colégio se aproxima do parar do veiculo. A porta do estabelecimento já está com centenas de seus colegas. Pensa: será que a professora irá entender seu trabalho e sua idéia de uma Penitencia/cidade? Sei lá, matuta: apesar de o colégio ser público e ser frequentado por crianças simples os valores são parecidos com tudo que passa na TV e nas ruas. Prefeitos, Vereadores, gente da sociedade, alguns deles até acusados de maldades com o POVO pobre, que se enriqueceram desviando coisas da comunidade são vistos nos dias de festas. Será que a professora não vai brigar com ela ou lhe dar nota baixa?

Dona Matilde tem sempre um olhar diferente dos demais mestres do Colégio Estadual Luiz Reid. Não gosta de dar notas a quem tem erros de gramática ou de pontuação. Pior de tudo é que seu trabalho deve estar todo cheio de erros. Seu avô não se formou em nada, ele mesmo diz que se orgulha e ser "apenas formado em datilografia" e que, a muito custo só foi até o segundo semestre numa Faculdade de Direito. Seu trabalho não deverá atingir nota mais que 5.

Chamadas por nome e eis que ela chega a mesa. Mariana, seu trabalho está muito bom. Você tirou 10, diz em voz alta Dona Matilde que, com 40 copias de seu trabalho começa a distribuí-los com os demais alunos pedindo que eles falem o que acham da cidade/presídio e que eles, as crianças, levassem a idéia para seus pais e que eles também participassem do trabalho...

José Milbs de Lacerda Gama, jornalista, cronista, historiador e editor de O REBATE.

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