O "AMADORISMO" DE AMORIM E O "PROFISSIONALISMO" DE PATRIOTA

A presidente Dilma Roussef se viu numa saia justa quando perguntada sobre a política brasileira para os direitos humanos. Até aí nada demais, o problema é que a pergunta foi feita durante sua visita à China, onde as violações a esses direitos são freqüentes, fazem parte da rotina e se constituem aparato indispensável para o modelo ditadura/capitalista eufemisticamente chamado de comunista.

Segundo alguns "especialistas" o ex-ministro das Relações Exteriores do governo Lula, Celso Amorim tinha olhos de amador para a política externa e trazia consigo o ranço do terceiro mundismo. À época da guerra fria os países que corriam à margem da União Soviética e dos Estados Unidos eram assim chamados, países do Terceiro Mundo, expressão à qual se acrescia a palavra subdesenvolvido.

No breve período que João Goulart foi presidente da República e mesmo no governo Jânio Quadros, o Brasil buscou rumos diversos para sua política externa. Com uma diferença. A de Jânio era blefe, usou Afonso Arinos para isso. A de Jango era parte de um processo de transformações profundas no País, razão pela qual acabou deposto pelos norte-americanos em 1964, num golpe desfechado por militares brasileiros subordinados a Washington.

Quando deixou o governo, em janeiro de 2003, FHC já tinha acertado com Bil Clinton a data da assinatura do acordo que iria implementar a ALCA – ALIANÇA DE LIVRE COMÉRCIO DAS AMÉRICAS –. Uma espécie de recolonização do Brasil, “um mercado de um trilhão de dólares” segundo o general Colin Powell, mais tarde secretário de Estado no primeiro mandato de George Bush.

Lula rechaçou o combinado e buscou o que Ivan Pinheiro – secretário geral do Partido Comunista Brasileiro – chamou adequadamente de “capitalismo a brasileira”. Para fazer frente às armadilhas deixadas por FHC e não tornar-se um novo De La Rua (presidente que por pouco não transforma a Argentina em massa disforme em meio ao caos geral).

A combinação de uma política agressiva de exportação (o lado capitalismo do negócio, principalmente por conta do agronegócio, um retrocesso de pelo menos cem anos na agricultura brasileira e um prejuízo para os anos futuros), a busca de equilíbrio nas contas e uma política externa independente formulada por Celso Amorim e Samuel Pinheiro Guimarães, a soma desses ingredientes aparentemente confusos, conferiu ao Brasil o papel de protagonista num mundo neoliberal, onde a nova ordem econômica (a partir do fim da URSS) se ajustava tanto quanto era implantada, como hoje, ou pelo poder de economias como a norte-americana, ou pelo tacão nazista dos soldados dos EUA e seus aliados da OTAN (os que bombardeiam e matam civis no Afeganistão, na Líbia e outras “libertações” mais.

A posição do Brasil implicou em aproximar o País da China, dos países do Oriente Médio, em criar um grupo de nações à margem das ordens de Washington e na busca de um processo de integração latino-americano capaz de nos permitir, no mínimo, preservar a independência e a soberania. Criar condições objetivas para um salto mais à frente.

O salto deveria ser Dilma. Por enquanto é só o do sapato.

Quando do apíce da crise Irã/EUA/Comunidade Européia sobre o desenvolvimento de pesquisas nucleares pelo governo de Teerã, a secretária de Estado norte-americana Hilary Clinton e o presidente branco disfarçado de negro Barack Obama, impuseram duas condições para um acordo que viesse a implicar na não adoção de sanções contra o Irã.

Amorim e o primeiro-ministro turco, com o aval de Lula, arrancaram do Irã o compromisso de cumprir as condições de Washington. Obama e Hilary foram diretos ao tomar conhecimento do acordo. “Não acreditamos no Irã”.

A história de duas condições era blefe. Pretexto, como as armas químicas e biológicas que Saddam Hussein não tinha, ou ajuda aos rebeldes líbios agora, na verdade o olho no petróleo. Ou a compra em pacote fechado da maioria das forças armadas do Egito para fingir que aquele país entra num processo democrático após a derrubada do ditador e aliado dos EUA Hosni Mubarak.

O ministro das Relações Exteriores da presidente Dilma Roussef votou a favor de investigações sobre supostas violações de direitos humanos no Irã, em recente reunião do Conselho de Direitos Humanos da ONU.

Sobre o genocídio contra o povo palestino praticado por Israel, o saque sistemático e a ocupação de terras palestinas, nada. Sobre a ditadura chinesa nada.

Mas musas dos anos 50 montadas em botox ideológico de um realismo que mistura capitalismo e comunismo e cria uma estranha empresa no contexto da nova ordem entendem que Celso Amorim olha para o passado e Anthony Patriot, ministro de Dilma olha para o futuro.

É capaz de compreender a “realidade” dos dias atuais.

Amorim não. Deve ter sido por esse motivo, “amadorismo”, que ano passado, foi eleito por um conjunto de representantes e jornalistas de várias partes do mundo, o sexto mais importante formulador de políticas externas contemporâneas.

Patriot – ou Patriota, como costumam chamar no Brasil – tem os olhos de raio-x, Enxerga o futuro. Aposta em costuras para que o País vire membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Não deve ter lido, nunca, as obras do embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, só os boletins de Wall Street, já que a nova política externa é chamada de “política de resultados”. Se tirar os sapatos der resultados tira.

“As Nações Unidas tendem a ser – e serão – o organismo mundial, o embrião de um Estado mundial controlado pelas estruturas hegemônicas com as grandes potências em seu centro, acima do controle da comunidade internacional. Estado no qual, na medida em essas potências mantiverem certa harmonia de visão, o sistema discriminatório centro-periferia será cristalizado e perpetuado”.

Está em “Quinhentos Anos de Periferia”, do embaixador Samuel Pinheiro Guimarães (foi substituído na Secretaria de Assuntos Estratégicos pelo “gênio” Moreira Franco), terceira edição, CONTRAPONTO e EDITORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL.

O tal “amadorismo” de Celso Amorim deve ser a percepção que mudaram o tempo e o espaço, mas continuamos terceiro mundo e debaixo de uma ameaça terrorista que transcende à que se convencionou chamar de guerra fria.

O “profissionalismo” de Patriot se escora no economicismo prático que tanto implica em calçar sapatos, como descalçar, ou andar de havaianas pelos corredores da ONU, ser revistado à porta do Teatro Municipal, etc, etc, naquele negócio de faremos tudo que o mestre mandar.

A cada dia que passa Dilma vai se transformando num grande e competente blefe (competente do ponto de vista dos donos).

O périplo da presidente pelo mundo passa por esse lado. Avisar que os portos estão abertos, para citar o ex-presidente Collor de Mello, primeira aposta do neoliberalismo no Brasil.
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