Mulheres sob assédio sexual de grupos armados em Mali

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Mulheres temem por sua segurança no norte de Mali. Foto: William Lloyd-George/IPS

Niamey, Níger, 25/4/2012 – Multiplicam-se as denúncias de mulheres violadas no norte de Mali por rebeldes tuaregues e de outros grupos armados que controlam a região desde o começo deste ano, quando expulsaram dali as tropas governamentais. Corinne Dufka, pesquisadora da organização Human Rights Watch (HRW) na África ocidental e que está em missão em Mali, se referiu a denúncias de violações e violência sexual em povoados e aldeias da região.
“Estamos muito preocupados pelo que parece ser um drástico aumento de agressões e abuso sexual de grupos armados do norte contra mulheres e meninas”, disse Dufka à IPS. “Desde que os rebeldes consolidaram seu controle do território que chamam Azawad, a HRW registrou vários casos de violações e sequestros de mulheres e meninas, que muito provavelmente sofreram abusos sexuais”, denunciou.

Dufka relatou que a maioria destes ataques foi “cometida por rebeldes do MNLA (Movimento Nacional de Libertação de Azawad) e, em menor medida, por milícias árabes aliadas”. O MNLA reúne vários grupos armados tuaregues, que se uniram para estabelecer e criar um Estado independente que chamaram Azawad.
Desde que a França se retirou da região, em 1960, houve várias revoltas dos tuaregues contra o governo de Mali, mas acabaram em negociações e com a designação de algum líder desse povo para um cargo no governo. Os rebeldes tuaregues – pertencentes à etnia nômade amazigh que habita o Magreb – afirmam que as autoridades não cumpriram suas promessas e reclamam um Estado independente.
E desta vez o MNLA conseguiu avanços sem precedentes no terreno, com armamento pesado conservado de antigos levantes e armas que chegaram da Líbia nos últimos anos. Este progresso foi facilitado pelo golpe de Estado de 22 de março em Bamako, capital do país, e a consequente retirada do exército da região norte.
O porta-voz do MNLA, Mussa Ag Assarid, negou que combatentes desse grupo sejam responsáveis por agressões sexuais. “Não pertencem ao MNLA, são outros que andam por aí”, disse por telefone desde a cidade de Gao, no Mali. “Não podemos controlar toda gente de Azawad”, acrescentou. O MNLA declarou um Estado independente no dia 6 deste mês, mas os moradores da região disseram que os rebeldes não parecem controlar a situação.
“Um dia vem um grupo armado, outro dia vem outro, sentimos muita insegurança”, disse à IPS um morador de Gao. Desde o começo do conflito vários grupos islâmicos armados apareceram nessa região, aumentando o medo sobre o futuro que espera a população feminina local. Um desses grupos, o Ansar Dine, liderado pelo líder rebelde tuaregue Iyad Ag Ghali, tentou impor a shariá (lei islâmica) no norte, e fez públicas suas crenças por meio do rádio pouco depois de entrar na cidade de Timbuktu.
“As desgraças se devem à falta de fé em Deus e porque as pessoas abandonaram a shariá ao mudar o estilo de vida, influenciada pelos brancos”, afirmou o líder. Estima-se que Ghali tenha 300 combatentes, mas sua influência parece ser bem menor. Muitos comandantes do MNLA o seguem desde revoltas anteriores, bem como narcotraficantes e outros setores armados da região. Desde que o Ansar Dine anunciou a imposição da shariá, circulam boatos de que Ghali foi visto viajando com líderes da Al Qaeda no Magreb Islâmico (AQMI).
Também se diz que operam na região o grupo extremista da Nigéria Boko Haram e o Movimento pela Unidade e pela Jihad (Guerra Santa) na África Ocidental. A população denuncia que há cada vez mais estrangeiros entre os islâmicos e aumentam os temores de que possa se concretizar o objetivo de Ghali de criar um Estado islâmico. A população de Mali, que tinha relativa igualdade de gênero em comparação com as mulheres de outros países da região, teme uma mudança para pior.
“Desde que estes grupos armados chegaram raramente saímos de casa. Estamos aterrorizadas do que pode acontecer se esquecermos de fazer algo que nos mandaram fazer”, disse à IPS uma mulher de 40 anos, vendedora em Timbuktu. “Trabalhei toda minha vida para alimentar meus filhos, como vou deixar de fazer isso agora? E mesmo se me deixarem trabalhar, não estou acostumada a ficar o dia todo com o corpo coberto da cabeça aos pés”, acrescentou.
Os moradores denunciam que o Ansar Dine e outras milícias percorreram a cidade porta por porta ordenando às mulheres que usem véu e respeitem a lei islâmica. Também foram aos cabeleireiros e rasgaram as fotos de cabeças femininas descobertas, fecharam bordéis e proibiram a venda de bebida alcoólica. Não há denúncias de que o Ansar Dine tenha punido mulheres por não respeitarem a shariá, mas elas temem que a situação mude se aumentar o controle islâmico.
A disponibilidade de alimentos, a eletricidade e a infraestrutura também estão gravemente afetadas pelo conflito. Em muitas cidades a comida e a água estão acabando, e é difícil para a população receber ajuda humanitária. “A vulnerabilidade das mulheres aumenta no norte pela falta de atenção médica, inexistência do Estado de direito e limitada assistência humanitária, que poderia mitigar seu sofrimento e evitar abusos maiores”, enfatizou Dufka. Envolverde/IPS
(IPS)

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