Semear nuvens, solução incerta para a seca mexicana

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O México sofre sua pior seca em sete décadas. Foto: Mauricio Ramos/ IPS

 

Cidade do México, México, 6 de fevereiro de 2012 (Terramérica).- Enquanto uma forte seca açoita metade do território mexicano, a técnica de semear nuvens aparece como opção para provocar chuva, embora não esteja regulamentada neste país. Esta tecnologia é fonte de polêmica. Há quem defenda seus benefícios, e seus críticos argumentam que não apresenta resultados concretos e não é estudado o efeito no ar, na água e no solo dos produtos químicos utilizados.

“Não está provada a metodologia. O investimento que se faz não apresenta nenhum resultado demonstrando que provoca mais chuva”, disse ao Terramérica a acadêmica Graciela Binimelis, do Centro de Ciências da Atmosfera da Universidade Autônoma do México. Doutora em ciências atmosféricas pela Universidade de Washington, Graciela estuda a física das nuvens há mais de duas décadas.
A técnica consiste em localizar um tipo de nuvem e bombardeá-la com iodeto de prata a partir de um avião, ou do solo, por meio de geradores ou foguetes, para que a água cristalize e se transforme em flocos de neve que aumentam até atingirem o peso necessário para que se precipitem em forma de chuva. Uma exposição intensa ou contínua ao iodeto de prata pode causar danos residuais em humanos e outros mamíferos, mas não sequelas crônicas.
A técnica de semear nuvens é usada na faixa fronteiriça do sul dos Estados Unidos com o México, na Argentina, no Chile, na Espanha e na China, esta a nação que mais a utiliza. “Se for usada ininterruptamente, com os apoios logísticos necessários, o pessoal especializado e as aeronaves adaptadas antes da temporada de chuva, os resultados serão positivos”, afirmou ao Terramérica o capitão de aviação Gustavo Dietz, que pilotou aviões dedicados a essas operações em Estados do norte mexicano.
“As nuvens semeadas de forma correta duram mais e têm maior cobertura aérea”, explicou ao Terramérica o especialista Gary Walker, da empresa Just Clouds, com sede no Estado do Texas, dedicada a esta técnica e à pesquisa atmosférica. A técnica não é considerada parte da geoengenharia, um conceito que define qualquer esforço humano em grande escala para adaptar os sistemas planetários à mudança climática.
Por isso, está livre da suspensão que a Organização das Nações Unidas (ONU) determinou em 2010 para os experimentos de geoengenharia, por seu potencial perigo para a biodiversidade. Há dois campos de pesquisas em geoengenharia: o controle da radiação solar e a absorção do dióxido de carbono da atmosfera, para reduzir a concentração deste gás causador do efeito estufa.
“Há pelo menos 25 razões pelas quais a geoengenharia pode ser uma má ideia”, afirmou ao Terramérica o professor Alan Robock, do Departamento de Ciências Ambientais da Rutgers University (Estados Unidos). Por exemplo, “as perturbações dos ventos de monção no verão asiático e africano, a redução da precipitação para a produção de alimentos de milhões de pessoas, esgotamento do ozônio, redução da energia solar e rápido aquecimento global”, detalhou Alan.
Segundo este especialista, a perspectiva da “geoengenharia poderia reduzir a tendência atual para a redução de emissões de gases-estufa, e também há preocupações sobre o controle comercial ou militar” dessas tecnologias. O México – onde operam pelo menos nove empresas que prestam serviço de semear nuvens, especialmente no norte do país – sofre sua pior seca em 70 anos, com metade de seu território afetada pela falta de chuvas, que ameaça a produção de alimentos e o emprego agrícola.
Entre 1996 e 1999, um período sem chuvas no Estado de Coahuila levou ao experimento com o Programa para o Aumento da Chuva em Coahuila, patrocinado pelo governo estadual, pela siderúrgica Altos Fornos do México e pelo norte-americano Centro Nacional de Pesquisas Atmosféricas (NCAR). O experimento acompanhou 94 casos, 51 de nuvens naturais e 43 semeadas, submetidas a uma mistura de sódio e cloreto de magnésio e de cálcio, que atraiu e absorveu o vapor de água circundante para criar mais rapidamente gotas grandes e suficientemente pesadas para que caíssem em forma de chuva.
“As análises preliminares sugerem que a semeadura teve efeito positivo sobre a quantidade de chuva produzida pelas tempestades”, afirma a pesquisa “Avaliação estatística de um experimento de semeadura de nuvens em Coahuila, México”. O estudo, publicado em 2001 no boletim da American Meteorological Society (dos Estados Unidos), esteve a cargo de três cientistas da NCAR e foi administrado pela Corporação Universitária para a Pesquisa Atmosférica, que reúne mais de 65 universidades. A área de chuva foi mais extensa e a precipitação das nuvens semeadas durou mais e foi maior – em alguns casos, o dobro – do que as nuvens não bombardeadas com produtos químicos, afirma o estudo. Uma vez superada a seca, o programa foi cancelado.
Em 2003, um artigo do consultor norte-americano Bernard Silverman, também publicado pelo boletim da American Meteorological Society, concluiu que, até então, experimentos no México, Índia, Tailândia e África do Sul não haviam proporcionado “as evidências estatísticas nem físicas necessárias para demonstrar que a semeadura higroscópica de nuvens convectivas aumenta as precipitações”.
As análises não cuidaram dos efeitos da chuva assim produzida no solo. Os experimentos devem durar pelo menos cinco anos para apresentarem resultados válidos, segundo os especialistas. “Não são conhecidos impactos positivos ou negativos sobre o meio ambiente. O que se viu ao longo de décadas é que existe uma mudança em como chove, para chuvas mais intensas e mais curtas, mas a quantidade de chuva que cai não mudou tanto”, segundo Graciela.

*O autor é correspondente da IPS.

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