Pode pensar isso, mas não pode pensar aquilo. Deve saber isso, não deve saber aquilo.
Ataque de Mulher Melancia, ou crise de William Bonner.
Excluir Monteiro Lobato, ainda que a partir de ressalvas e parcialmente, é fascismo puro, falta de percepção do processo de tempo e espaço, desconhecimento da História.
Não é cabível num CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO de um governo como o de Lula.
O blog QUEM TEM MEDO DE LULA reproduz um trabalho da professora Luci Ruas Pereira, originalmente publicado no site da UFRJ (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO) que põe os pingos devidos nos iis despingados do CNE.
Critica a decisão unânime de acolher o parecer da conselheira e relatora Nilma Lino Gomes, que ratificou denúncia de Antônio Gomes da Costa Neto, que "entende CAÇADAS DE PEDRINHO como manifestação de preconceito e intolerância de maneira mais específica a personagem feminina e negra Tia Nastácia" e aos "personagens animais como urubu, macaco e feras africanas".
Quer o CNE que o leitor seja alertado sobre o conteúdo "racista" no bojo da obra do escritor.
Imagine se tivessem lido VIAGEM AO CÉU e percebido que Tia Nastácia encantou São Jorge com seus bolinhos. Ou em O MINOTAURO, que uma das perspectivas encontradas para a turma do Pica-pau Amarelo se salvar no labirinto foi exatamente o fato de Tia Nastácia ter feito bolinhos e mais bolinhos para o monstro que, gordo, não pode perseguir Pedrinho e sua turma.
A professora Luci Ruas Pereira explica, tem muita paciência com a mediocridade, mas é necessário. Tomara que os membros do dito CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO leiam o trabalho de Luci Ruas Pereira, paguem penitência pela besteira feita, divulgada e publicada e sejam matriculados num curso de História, de Literatura, com conhecimento obrigatório do papel exercido por Monteiro Lobato em seu tempo e em nosso País.
Foi, em O POÇO DO VISCONDE, responsável por uma das obras mais importantes na luta pelo "petróleo é nosso" e talvez os ilustres conselheiros, burocratas do politicamente correto, mas burros, não saibam, que Monteiro Lobato foi suplente de deputado federal do PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO, por São Paulo, nas eleições para a Constituinte de 1946.
"Quando você quiser fazer cocô me fale que eu levo você à casa do Pedrinho". É o texto de um filme de propaganda do GLADE, um negócio que faz o banheiro cheirar bem e que um irmão diz ao outro (no berço), ante o espanto da mãe que ainda não descobriu GLADE.
Deve ser a "literatura" dessa gente que forma o tal CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO.
O produto é da JOHNSON, não confundir senhores membros do CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO com Lyndon Johnson presidente dos EUA, ou com o famoso óleo para limpar bumbuns de bebês depois de uma borrada. O laboratório, a propósito, está introduzindo um novo viés no mercado neoliberal.
Recall de remédio, caso do BENADRYL.
"Monteiro Lobato foi um homem do seu tempo e, como tal, sujeito às contradições da sua época. Se, em Caçadas de Pedrinho, observam-se referências estereotipadas contra os negros, como quer confirmar o parecer, com o qual já disse que não concordo, é possível, em O Saci, ver com que respeito é tratado o Tio Barnabé, tanto por Dona Benta, quanto pelas crianças. Em A reforma da natureza, logo ao primeiro capítulo, quando o narrador diz que a guerra estava acabada e a Europa precisava discutir a paz, um dos reis ali presentes afirma que é preciso "convidar para a conferência alguns representantes da humanidade". Esse mesmo rei afirma, depois de conversar com o General De Gaulle: "- Só conheço - disse ele - duas criaturas em condições de representar a humanidade, porque são as mais humanas do mundo e também são grandes estadistas." E o Duque de Windsor aprova o convite, apontando a ‘sabedoria' de Dona Benta e o ‘bom senso' de Tia Anastácia. Para além desses episódios, é preciso considerar que as personagens mais instigantes e mais questionadoras do Pica-pau Amarelo são a Emília e o Visconde, ambos criações de Tia Anastácia. Em Memórias da Emília, a boneca atrevida e espevitada reafirma o seu carinho por Tia Anastácia, aquela que lhe muda os olhos todas as vezes em que cansa de ver as coisas da mesma forma. Se há razões para afirmar algum racismo em Lobato, sobretudo nas expressões que dizem estereotipadas, por outro lado, ao contradizer esses estereótipos, Lobato os esvazia.
É empobrecedora qualquer leitura que cerceie o direito de o leitor escolher o caminho que mais lhe interessa para sua leitura. Não é essa a postura que, como educadores, pretendemos do leitor crítico que desejamos formar. Será que vamos reeditar o Index Librorum Prohibitorum? Que triste ensaio!!! Vetar sem permitir discussão é o mesmo que censurar. E aditar notas explicativas ao texto é direcionar, sim, a leitura".
O INDEX LIBRORUM PROHIBITORUM a que se refere à professora Luci Ruas Pereira era o catálogo de obras proibidas pela Igreja Católica em tempos em que os fiéis eram convocados a jurar publicamente que além de não ler tais obras, não conversariam com protestantes, com espíritas, além de outras cositas más tipo o bispo de Guarulhos na campanha eleitoral (documentos padrão Idade Média).
Para desgosto da turma, à época, o arcebispo de Olinda e Recife, D. Hélder Câmara, ainda no Rio e auxiliar do líder fascista Jaime de Barros Câmara, tinha o título de cardeal, fez uma declaração pública afirmando que quando queria divertir-se de forma saudável lia as obras do que é conhecido como Literatura Infantil de Monteiro Lobato.
À mesma época, outro religioso, Assis Brasil, esse padre, escreveu uma peça de estupidez chamada A LITERATURA INFANTIL DE MONTEIRO LOBATO OU O COMUNISMO PARA AS CRIANÇAS.
O tal CONSELHO FEDERAL DE EDUCAÇÃO está mais para levar o irmão menino à casa do Pedrinho e descobrir os fascinantes efeitos de GLADE. O que pensa pela gente.
E deve providenciar estoques de óleo Johnson para esse tipo de decisão. Haja fralda.
