A desnutrição rouba a saúde dos mais pobres

410 A desnutrição rouba a saúde dos mais pobres
Cidade da Guatemala, Guatemala, 17/10/2011 – “Se é possível, compramos ainda que seja um osso no açougue a cada 15 dias, embora regularmente passemos com milho e feijão”, admite Marvin Fajardo, camponês pai de três filhos, do departamento guatemalteco de Escuintla. Como Fajardo, milhares de famílias da Guatemala subsistem com uma precária dieta alimentar à base de grãos e cereais diante da incapacidade econômica de se abastecer de proteínas de origem animal, como as fornecidas por carnes e lácteos, indispensáveis para o crescimento e o desenvolvimento mental das pessoas.
Este caso se repete por todo este país, principalmente na área rural e entre a população indígena, e muitas vezes acaba em um “quadro de desnutrição crônica”, que marcará a saúde para o resto de sua vida. A Guatemala, com 14 milhões de habitantes, apresenta a maior desnutrição crônica infantil da América Latina, que afeta 49,3% das crianças menores de cinco anos, e uma das mais altas do mundo, segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
“Pela manhã comemos feijão e um ou outro pescado que conseguimos capturar. No almoço consumimos feijão e arroz, e na janta também”, contou Fajardo, que vive da plantação de banana na comunidade Trocha Ocho, do município de Nueva Concepción, a 194 quilômetros da Cidade da Guatemala. Desta vez, sua situação piorou. Sua plantação desapareceu debaixo d’água com a chegada da época chuvosa, impactada pela depressão tropical 12-E, que atingiu o país no dia 12.
“Perdi minha colheita de banana, da qual vivemos, e agora recebemos víveres do Programa Mundial de Alimentos”, explicou Fajardo à IPS, por telefone, à espera de que baixasse o nível da água na aldeia alagada para poder voltar para casa. Contudo, o drama não acaba aí. Como a plantação de duas áreas de banana não basta para subsistir, Fajardo costuma trabalhar em outras propriedades para poder alimentar a mulher e os três filhos. “Porém, por causa das inundações, não há emprego em lugar algum”, disse, preocupado.
A insegurança alimentar que sofre esta família no sul do país é uma situação compartilhada por milhares de outras na Guatemala, onde metade de seus habitantes vive na pobreza e 17% são indígenas. Quais consequências tem essa situação na saúde das pessoas? Cynthia Tabín, nutricionista do Hospital Nacional no departamento de Totonicapán, disse à IPS que este tipo de alimentação provoca deficiências no crescimento e desenvolvimento intelectual das crianças, que depois apresentam baixo rendimento e posterior deserção escolar.
De fato, a estatura é algo que não se recupera, enquanto o desenvolvimento mental pode melhorar dependendo da alimentação posterior, mas não há certeza disso, segundo Tabín. “Temos uma dieta pobre em proteínas de origem animal, como a carne, produtos lácteos e inclusive ovos, que é o produto mais caro para a população”, acrescentou. Em Totonicapán, departamento com o índice mais alto de desnutrição crônica do país que afeta 77% de sua população, costuma-se comer uma espécie de pastel de milho, água de cevada, sopa sem carne nem verduras, acompanhada de ervas. Esta dieta, com o tempo, leva à desnutrição crônica, alertou a nutricionista.
“O certo seria que as crianças consumissem cerca de 65% de carboidratos, 15% de proteínas e 20% de gordura. Só que quase 80% do que comem são carboidratos como arroz e milho, os mais baratos”, acrescentou Tabín. Na Guatemala, pouco menos de meio quilo de milho custa o equivalente a US$ 0,20, quando a mesma quantidade de carne bovina pode valer US$ 2, dez vezes o preço do milho, ou mais. As mães lactantes também podem contribuir para esta situação. O abandono da amamentação materna antes dos seis meses constitui uma causa “importante” da desnutrição infantil, ressaltou.
Os efeitos mais importantes da má nutrição infantil estão detalhados no documento “Análise Situacional da Má Nutrição na Guatemala: Suas Causas e Abordagem”, apresentado no dia 11 pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Os dados são alarmantes. A desnutrição crônica reduz entre 10% e 15% o coeficiente intelectual, a perda de 1% em estatura de adultos por desnutrição na infância leva a uma perda de produtividade de 1,4%, e a deficiência de vitamina A compromete em 40% o sistema imunológico dos menores de cinco anos, afirma o documento.
Hernán Delgado, coautor do estudo, disse às IPS que, lamentavelmente, a desnutrição crônica que se manifesta nos primeiros mil dias de vida provoca danos irreversíveis no ser humano. “O ideal seria garantir que desde a concepção até o segundo ano de vida a mãe e a criança tivessem a nutrição mais adequada”, disse o especialista. No entanto, o progresso em matéria nutricional do país é raquítico como o problema. “A tendência à diminuição em desnutrição crônica observada na Guatemala, expressa em porcentagens reduzidas por ano, é de 0,5 desde 1965 a 2008”, diz o informe.
E o pior: nos menores de cinco anos, a anemia aumentou de 42% para 48% entre 2002 e 2008, enquanto o sobrepeso e a obesidade cresceram 87% nos últimos 43 anos, acrescenta o documento. “É um problema muito sério, responsável em grande parte pelo subdesenvolvimento da Guatemala, que exige ações integradas que afetem o estrutural”, disse Delgado, cujo estudo considera importante o acesso a meios de produção como a terra e a recursos de capital para melhorar a nutrição. O documento recomenda focar a atenção na população em risco, principalmente nos primeiros mil dias de vida, criar programas para favorecer a educação e a saúde e definir uma agenda multissetorial de segurança alimentar.
Carolina Siu Bermúdez, diretora do Instituto de Nutrição da América Central e do Panamá, disse à IPS que a desnutrição é um problema que não se elimina dando um alimento melhorado, mas com a redução da pobreza, melhora da educação e da saúde das mulheres, e acesso a fontes de trabalho. “A Nicarágua conseguiu reduzir a desnutrição e a pobreza, mas isso tem a ver com inúmeras políticas de governo destinadas a proteger a população pobre”, afirmou. No entanto, agências das Nações Unidas anunciaram, no dia 10, que os preços dos grãos básicos continuam subindo. Envolverde/IPS

 

(IPS)
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