Contra a submissão aos Estados Unidos

O setor militar paquistanês recebe grande apoio dos Estados Unidos.

1355 Contra a submissão aos Estados Unidos

Irfan Ahmed/IPS
Carachi, Paquistão, 25/5/2011 – O assassinato de Obama bin Laden por um comando norte-americano no Paquistão levou muitos setores sociais deste país a cobrar do governo que não aceite assistência estrangeira e supere sua condição de “mercenário de Washington”. O líder da rede extremista Al Qaeda foi morto em uma operação encoberta dos Estados Unidos em solo paquistanês, no dia 2. O ministro-chefe da província de Punjab, Shahbaz Sharif, disse que seu governo deixaria de aceitar a ajuda dos Estados Unidos e cancelaria seis acordos em matéria de saúde, educação e gestão de lixo sólido. Sharif prometeu “quebrar o prato das esmolas” que, segundo ele, socava a soberania do Paquistão.
Inúmeras pessoas acreditam que Sharif faz jogo para a torcida, mas o ministro-chefe do Punjab, uma das maiores províncias e onde residem 60% dos 180 milhões de habitantes do país, fez eco a um sentimento crescente entre diferentes setores da sociedade, desde acadêmicos, economistas e políticos, passando pelos meios de comunicação, até o cidadão comum. Todos reclamam um freio à entrada de dinheiro estrangeiro, e não apenas dos Estados Unidos.
O Paquistão é um dos principais receptores de ajuda dos Estados Unidos, junto com Egito e Israel. Na última década, recebeu US$ 20,7 bilhões, sendo dois terços destinados ao setor militar. “Necessitamos nos arriscar realmente e, no mínimo, tratarmos de ser independentes”, disse a escritora Farah Moazzam. “O que podemos perder?”, perguntou. A ajuda estrangeira está na origem de todos os problemas e todas as dificuldades do Paquistão, afirmou. “Sofremos escravidão política e colonização. Há muitos anos nos fazem crer que não sobreviveremos se a ajuda for cortada. Mas, conseguiremos”, acrescentou Moazzam.
O analista financeiro Munaf Lakda, que trabalha em uma companhia multinacional, acredita que é hora de o Paquistão caminhar por si mesmo. “Podemos sobreviver se permanecermos unidos”, afirmou. Mas, existe uma armadilha, disse. “Nossos líderes terão que apertar o cinto, o que não farão, pois têm uma agenda totalmente diferente”, explicou.
Para o economista Rasul Baksh Rais, residente em Lahore, capital de Punjab, depender da assistência estrangeira interfere em “nossa racionalização das prioridades de desenvolvimento e de questões de políticas públicas em matéria de defesa e desenvolvimento”. A única forma de reduzir a dependência é aumentar os impostos, disse. “O verdadeiro problema não é a carga do orçamento da defesa, mas dos empréstimos”, explicou o economista.
Quase 55% do orçamento nacional é usado para pagar dívidas. O governo continua solicitando empréstimos porque “nossas autoridades se beneficiam dessa política”, afirmou Rais. “O gasto com defesa representa 28% do orçamento, é muito alto e é preciso diminuir, mas não podemos fazer isto até que revisemos nosso modelo em matéria de segurança nacional”, acrescentou.
Muitas pessoas sentem que este país é vítima de injustiças. Quase 30 mil paquistaneses morreram desde 11 de setembro de 2001, após os atentados terroristas contra Nova York e Washington, incluindo cinco mil soldados, policiais e agentes de inteligência.
“Claro que sofremos injustiças”, afirmou Haris Gazdar, analista político e econômico. “Nosso povo nem mesmo sabe o baixo preço pelo qual suas vidas foram vendidas aos estrangeiros. Sim, aos norte-americanos, mas não é nada comparado com os sauditas”, disse. “A maioria de nossa gente foi assassinada pela Al Qaeda e por seus aliados, não pelos Estados Unidos. Os sauditas são os maiores financistas do terrorismo em nosso país. No entanto, são considerados benfeitores”, disse Gazdar.
O enorme orçamento destinado à defesa não impede que seja regularmente golpeado por atentados terroristas e seja considerado o mais perigoso. No processo, a saúde e a educação foram seriamente prejudicadas. Há pouco tempo, e especialmente após a morte de Bin Laden, muitos paquistaneses começaram a questionar os milhões de dólares entregues ao Exército, acusado de dar refúgio a combatentes não regulares e responsáveis por atos terroristas.
A lição mais importante que o Paquistão deve aprender com o episódio Bin Laden, segundo Gazdar, é que o Exército deve deixar de fazer “jogo duplo, abandonar os jihadistas” e deixar a política externa nas mãos “dos que devem dirigi-la segundo a Constituição”. Após os atentados de 11 de setembro de 2001, o Paquistão afundou porque “não teve outra alternativa viável de participação”, segundo Rais.
“Para nós, não foi uma participação por escolha, mas pela necessidade derivada de nossos antigos vínculos com o movimento islâmico afegão Talibã e nossas circunstâncias geográficas”, explicou Rais. “Não há como saber se os assassinatos e as mortes de paquistaneses em atentados terroristas seriam menores se o país tivesse permanecido neutro no conflito, o que, de fato, ninguém teria aceitado nem considerado possível”, afirmou
O Paquistão poderia ter adotado outra atitude após os atentados de 2001? Poderia ter continuado ajudando o Talibã sem consequências?, perguntou Hasan Askari Rizvi, analista de questões de defesa. A situação é vista com maior clareza “sem sentimentalismos”, afirmou. Envolverde/IPS
(IPS)

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