Civis paquistaneses pagam o custo da guerra ao terror

Karachi, Paquistão, 21/12/2010 – O paquistanês Kareem Khan provavelmente temia que sua mulher desmoronasse ao ver o cadáver de seu filho, de apenas 18 anos. Mas elas simplesmente sorriu e lhe desejou boa viagem ao paraíso. “No Islã, quando uma pessoa morre durante a guerra vai direto para o céu, e por isso não usamos luto por sua morte”, explicou Kareem, acrescentando que, por ser um “Hafiz” – alguém que memorizou completamente o Corão – seu filho era “especial”. “A estes – dizem – é permitido que mais dez pessoas se unam a eles no paraíso”, acrescentou.

No dia 31 de dezembro de 2009, um avião não tripulado norte-americano lançou mísseis sobre o complexo habitacional de Machikhel, no Waziristão do Norte, uma área tribal fronteiriça com o Afeganistão, no noroeste do país. Zainullah, seu tio Asif Iqbal, um professor e um operário de construção morreram na hora. “Nem tínhamos nenhum combatente em nossa casa, nem era um lugar de treinamento. Então, por quê?”, perguntou Kareem.

Dirigidos pela Agência Central de Inteligência (CIA), os aviões não tripulados têm a missão de atacar supostos integrantes da rede islâmica Al Qaeda e do movimento islâmico Talibã nas áreas tribais do noroeste paquistanês. Desde junho de 2004, foram lançados 205 ataques desse tipo nessas áreas.

Washington disse que esta forma de ataque permitiu que fossem mortos muitos altos chefes terroristas e seus aliados. Mas há fortes indícios de que estes “êxitos” tiveram um alto custo entre a população civil, o que aumenta o ódio em relação aos Estados Unidos entre os paquistaneses, alguns dos quais sugerem que os ataques fortaleceram os combatentes islâmicos.

Kareem, jornalista que trabalha para órgãos como as redes Al Jazeera e Al Qudds, afirmou que “estes infiéis querem acabar com os muçulmanos. Nos chamam de extremistas quando tudo o que fazemos é viver nossa vida de acordo com o Islã, dentro dos limites de nossa casa”.

Por sua vez, o advogado Mirza Shahzad Akbar afirmou: “A CIA mata membros das tribos e propicia toda uma onda de atacantes suicidas, beneficiando, mais do que afetando, os talibãs”. O número exato de mortes pelos aviões não tripulados é desconhecido. No entanto, a instituição New America Foundation, com sede em Washington, estima que esteja entre 1.290 e 1.985, dos quais apenas 32 eram “objetivos de alto valor”.

Mirza garantiu ter muitas evidências para demonstrar que os ataques causaram um grande número de baixas civis. “As vítimas que foram reveladas nos mostram que o título de combatente é usado de forma muito ampla” por Washington, afirmou. “Não há guerra entre Estados Unidos e Paquistão, então estes ataques só podem ser catalogados como homicídio ou assassinato extrajudicial”, acrescentou.

Há mais de duas semanas, Mirza ajudou Kareem a exigir da CIA uma compensação de US$ 500 milhões pelo “assassinato ilegal” de Zainulla e Asif. Em conversas telefônicas com a IPS desde Islamabad, a voz de Kareem soava trêmula e com raiva. “Não posso perdoar os norte-americanos pelo assassinato ilegal. Se estivesse lá, juro que os teria caçado”, disse. Recentemente, o jornalista uniu-se a uma dezena de representantes de tribos fronteiriças que viajaram a Islamabad e protestaram durante dois dias diante da sede do Parlamento.

Muhammad Faheem, de 18 anos, estava entre eles. Este jovem perdeu a perna esquerda e um olho no ataque de um avião não tripulado em 2009. Porém, se considera com sorte, já que foi o único sobrevivente dos nove membros de sua família. A experiência, no entanto, deixou cicatrizes físicas e psicológicas. “Cada vez que ouço o som dos aviões não tripulados meu coração dispara. Não posso me concentrar nos estudos. Continuo pensando qual será o novo alvo. Poderia muito bem ser eu novamente”, disse à IPS por telefone desde Islamabad.

Kareem continua pressionando, apesar de sua demanda legal continuar sendo ignorada. No dia 13, apresentou uma queixa em uma delegacia de polícia contra o chefe da CIA em Islamabad, Jonathan Banks. Seu próximo plano é levar o caso diretamente à justiça contra Banks pelos ataques com aviões não tripulados no Paquistão. “E, por fim, iremos à Suprema Corte contra o governo do Paquistão, exigindo saber sob qual autoridade permite esses ataques e por que não protege seus civis”, disse Mirza.

“Fui procurado por uma dezena de outras pessoas que querem ir a Islamabad apresentar uma queixa. Todos foram afetados diretamente: ou perderam um membro da família ou ficaram mutilados pelo resto da vida”, acrescentou. Das 15 famílias que conheceu, ele representa 12. Embora tenha esperança de ver a justiça ser feita, admitiu que “esses casos demoram muito”.

I. A. Rehman, da Comissão de Direitos Humanos do Paquistão, também acredita que os afetados por esses ataques serão compensados, embora considere pouco provável que “a CIA seja levada aos tribunais”, ou que essas ofensivas acabem. No entanto, afirmou que “a estratégia para seu uso deve ser revista”. Islamabad condenou repetidamente os ataques, afirmando que violam sua soberania. Entretanto, segundo um dos telegramas diplomáticos divulgados pelo wikileaks, o primeiro-ministro, Syed Yousaf Raza Gillani, teria dito, em 2008, à ex-embaixadora Anne W. Patterson: “Protestaremos na Assembleia Nacional e em seguida os ignoraremos”. Envolverde/IPS

(IPS/Envolverde)

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