Amor, amigos, sol, saúde e família

As palavras do título foram as mais comuns nas respostas à pergunta "o que você precisa pra viver", segundo pesquisa da WWF-Brasil feita com pessoas brasileiras. Quase ninguém respondeu ar, água e comida. Sem os três, não há amor, amigos, saúde e família porque não haveria pessoas para amar, fazer amizades, ter saúde e constituir família. Do título, só o sol escaparia por esta fora do planeta. Aliás, sem a luz e o calor do sol, a vida não seria possível na Terra.
É compreensível, em parte, o desejo dos brasileiros. Afinal, a pergunta é muito ampla e as respostas pressupõem que se respire, beba e coma. Entre povos que vivem em contato maior com a natureza, as respostas seriam outras. Depoimentos de ameríndios incluiriam o sol, o silêncio, o verde das plantas, os animais, a água etc. Como a civilização industrial colocou entre nós e a natureza um escudo de tecnologia, ar e água tornam-se imperceptíveis.
Logo após o encerramento da Conferência das Partes sobre a Biodiversidade (COP-10), em Nagoia, Japão, cremos ser um momento adequado para lembrar o valor do ar, da água e dos alimentos, associando-os à diversidade de espécies. A Conferência Rio-92 criou uma grande euforia sobre o futuro do planeta. Ela foi uma espécie de catarse. Terminada, todos saíram com a sensação de que os problemas estavam resolvidos. A Convenção sobre a Diversidade Biológica parecia ter salvado todas as espécies da extinção. Porém, foi outro o resultado. Já houve dez conferências para discutir, ajustar e aplicar o documento sem resultados animadores. Do otimismo, passamos ao pessimismo. Mais um motivo para explicar aos leigos a importância de três itens indispensáveis ao ser humano.
1- Ar. O russo Oparin e o norte-americano Melvin Calvin partiram da premissa de que a vida se constituiu porque a atmosfera original era favorável a sua emergência. Hoje, a equação foi invertida: apesar de uma atmosfera original adversa, a vida surgiu assim mesmo, na forma de bactérias que não fazem a fotossíntese e de micro-organismos capazes de produzir oxigênio. Estes segundos, para fugir da radiação ultravioleta, começaram sua vida no fundo dos oceanos, aonde a radiação devastadora chegava abrandada. Eles começaram a fazer fotossíntese liberando oxigênio e absorvendo gás carbônico. Foram eles que construíram uma atmosfera favorável ao desenvolvimento das plantas, que também produzem oxigênio e comem gás carbônico. A partir de então, foi possível o desenvolvimento de animais. O ar que você respira, leitor, é obra do trabalho de milhões de microalgas e de plantas. E você nem se importa com isso porque o ar lhe é dado de graça. Se nós tivéssemos de produzir oxigênio, o preço do ar seria muito alto. Mas as microalgas e as plantas não cobram nada.
2- Água. O planeta é dominado por água, mas é ínfima a proporção de água doce. 69% dela estão nas geleiras e 30% em áreas subterrâneas. Apenas 1% se encontra em rios e lagos. As geleiras estão se derretendo com o aquecimento global e se transformando em água salgada por correrem para os oceanos. Rios e lagos estão sendo poluídos. O consumo de água subterrânea sofre uma grande pressão por parte da produção agropecuária rica para irrigação. Em 1960, seu consumo era de 126 km3 ao ano. Em 2000, a extração de água subiu para 283 km3 anualmente. A situação é perigosa porque não se conhece ainda a quantidade de água subterrânea do planeta.
3- Comida. Parece que esta, sim, nós produzimos. Mais um engano. Se não fossem os insetos, as aves e os morcegos, principalmente, as flores de plantas comestíveis não seriam polinizadas e não dariam frutos. Entre os animais, os insetos representam a esmagadora maioria. O trabalho deles foi avaliado recentemente em 210 bilhões de dólares por ano. Isto significa que sem insetos polinizadores a humanidade teria de gastar a fabulosa quantia mencionada para realizar as tarefas que os insetos fazem de graça e sem a competência deles. Claro que existem muitos insetos transmissores de doenças. Cabe lembrar, contudo, a existência de animais que devoram insetos, entre eles as pererecas, rãs e sapos. O lamentável é que uma em cada três espécies deste grupo de animais está ameaçada de extinção.
Nós também nos alimentamos de peixes. Os recifes de corais são responsáveis por 172 bilhões de dólares por ano porque eles formam ambientes ideais para a alimentação e para e para a reprodução de peixes. Por sua vez, os corais se alimentam de microalgas. Pena que o aquecimento global está matando as microalgas e os bancos de corais, comprometendo a pesca marinha.
Ainda não existem avaliações detalhadas sobre quanto a economia humana economiza ao proteger a biodiversidade. A estimativa mais recente informa que a economia mundial está sofrendo um prejuízo em torno de 5 trilhões de dólares ao ano. E nós estamos irresponsavelmente sorrindo enquanto respiramos, bebemos água e comemos. Sei que a maioria da humanidade não é responsável pelo roubo que a economia de mercado pratica sobre a natureza. Mas, informados, podemos nos unir para exigir o direito a uma vida com qualidade.
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