Um eleitor de Marina Silva

Desde que comecei a exercer meu direito de voto, passei a praticar um contorcionismo eleitoral capaz de distensões musculares. Desde 1982, voto sem convicção, sempre praticando táticas mirabolantes para alcançar uma estratégia que nunca chega. Participei ativamente das campanhas de Miro Teixeira e de Lula. Neste segundo, votei até a penúltima eleição para presidente. Na última, desiludido com o candidato e com as manobras táticas, anulei meu voto. Sempre disse que não uso sistematicamente o expediente do voto nulo, como fazem os verdadeiros anarquistas. Acho que anular o voto é uma opção quando não se tem opção.
No primeiro turno da atual eleição, pela primeira vez na vida votei tranqüilo em Marina Silva. Não porque ela é mulher, como Dilma Roussef vem dizendo. Não acredito mais nesta lengalenga de que mulher é mais sensível que homem. Basta ver os casos de Margaret Thatcher, de Angela Merkel, de Condoleezza Rice e de Hillary Clinton. Votei no seu programa e na sua seriedade. Se fosse um homossexual negro e evangélico a defender o mesmo programa com a mesma seriedade, ele teria meu voto.
Creio que Marina Silva fez uma campanha honesta, sem apelação, sem aceitar provocação, sem baixar o nível. Plínio de Arruda Sampaio acusou-a de ecocapitalista. No atual contexto capitalista, que presidente pode assumir o cargo sem fazer concessões ao capitalismo? Num regime representativo, não há lugar para discursos e ações claras de esquerda. Conheci Fernando Henrique Cardoso, José Serra e Lula nos encontros anuais da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, nos anos de 1970. Os três, com Darcy Ribeiro e Antônio Callado, faziam fortes pronunciamentos de caráter político socialista. Era fácil, pois estávamos em pleno regime autoritário militar. Com a abertura, os gatos deixaram de ser pardos. Os socialistas foram para partidos diferentes e acabaram mostrando as unhas. Por mais que Lula tenha promovido uma certa distribuição de renda, trata-se de uma política favorável ao capitalismo e, o que é pior, ao consumismo.
De Dilma, sei apenas que foi guerrilheira e que se filiou ao PDT. Acompanhei sua postura pública como figura importante do governo Lula e sempre a considerei uma pessoa dura, produtivista, um verdadeiro rolo compressor. Com os vinte milhões de votos de Marina Silva, as questões religiosa e ambiental se impuseram. Não me preocupei com o fato de Marina pertencer a uma igreja evangélica pentecostal, o grupo mais escapista do cristianismo no Brasil. Repito que foi a questão ambiental, colocada com prudência, e a seriedade da campanha os meus motivadores.
A própria Marina não falou tanto acerca do aborto, do casamento homossexual, da liberação de drogas como Dilma e Serra. Considero demagogia das mais baratas Dilma assinar um documento condenando o aborto e o casamento entre homossexuais a pedido dos evangélicos. Nunca vi nada igual antes. Das mais baratas é também a participação de Dilma e Serra em igrejas, acompanhando missas e fazendo o sinal da cruz. Nenhum dos dois candidatos é confiável para mim. Não votarei no menos pior. Não quero mais este tipo de prática na minha vida.
Mesmo que os dois candidatos à presidência da república se comprometessem, por escrito, a tratar a questão ambiental como estratégica, nada garantiria que acontecesse o que aconteceu com Lula. Ele escolheu uma pessoa respeitável para o Ministério do Meio Ambiente. Depois, ele a isolou até levá-la a uma situação insuportável e a pedir exoneração. Da minha parte, como já escrevi por diversas vezes, a grande contradição do nosso tempo é representada pelo conflito entre desenvolvimento capitalista duro e/ou sustentável versus ambiente. Ele está intimamente ligado à questão social. Não é possível avançar para um sistema socialista num terreno devastado.
Não descuro do direito dos pobres, das mulheres, dos discriminados pelo tipo físico e dos homossexuais. Afirmo, apenas, que a questão ambiental é a mais grave, no meu entendimento. Daí o meu voto em Marina, com ou sem o PV. Seja qual for a posição de ambos para o segundo turno, eu paro por aqui, no primeiro.
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