'FOLHA': SEM CREDIBILIDADE NEM SENSO DE RIDÍCULO

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No último dia 15, certo de que a Folha de S. Paulo continuaria escamoteando as boas práticas jornalísticas, divulguei o artigo Caso Battisti: a 'Folha' driblará de novo o direito de resposta?.

 

Resumindo:

  1. o jornal publicara em 13/09 um panfletinho canhestro, de viés escrachadamente direitista, perpetrado por uma nada ilustre desconhecida para pressionar o presidente Lula a decidir de maneira injusta e indigna o caso da extradição do perseguido político italiano Cesare Battisti;
  2. no mesmo dia o companheiro Carlos Lungarzo detonou tal falácia parágrafo por parágrafo, produzindo uma refutação exemplar e enviando-a à Folha lá pela hora do almoço;
  3. o pasquim da  ditabranda começou a enrolar o Lungarzo no próprio dia 13 e continuou no dia 14, com o editor de Opinião finalmente prometendo uma resposta... para o dia 16, quando o assunto estaria frio como um iceberg;
  4. antes disto, no dia 15, publicou no Painel do Leitor uma refutação do advogado Barroso, fiel à sua prática de fornecer tribuna privilegiada para as piores aberrações e relegar as contestações à seção de leitores, que o Paulo Francis apropriadamente definia como "muro das lamentações";
  5. cantei a bola no texto que lancei de batepronto no dia 15, antecipando que este seria o pretexto utilizado pela Folha para não publicar o artigo do Lungarzo, negando-lhe o direito de resposta no mesmo espaço e com o mesmo destaque, como era praxe no jornalismo de verdade, mas deixou de sê-lo quando os jornais ficaram submetidos a banqueiros credores ou a filhinhos de patrões.

Errei: a alegação do editor de Opinião acabou sendo de que eu publicara o artigo do Lungarzo no meu blogue e, provavelmente, o espalhara pela minha rede, o que inviabilizaria o aproveitamento por parte do jornal.

Esperei até o dia 19, para ver se a ombudsman, em sua coluna dominical, cumpriria seu dever de abordar este caso. Também se omitiu.

Então, resolvi dividi-lo com meus leitores.

É hilário constatar que, da forma como o editor de Opinião da Folha apresentou  a questão, euzinho fui colocado em pé de igualdade com o autoproclamado maior jornal do País: o que sai no blogue do Lungaretti, a Folha não publica.

Isto só faria sentido, claro, se um número considerável de leitores da Folha já houvesse tomado conhecimento do artigo do Lungarzo por meu intermédio.

Então, há somente três possibilidades:

  1. meu público seria muitíssimo maior do que eu pensei;
  2. o público da Folha seria muitíssimo menor do que ela apregoa;
  3. tudo não passou de desconversa, mero pretexto para o jornal se furtar a seu dever.

De qualquer forma, acabou sendo uma homenagem que o vício prestou à virtude, pois, modéstia à parte, nos meus espaços se pratica um jornalismo inexistente na Folha desde os idos dos '70, quando tinha um diretor de redação de verdade, Cláudio Abramo.

Da mesma forma que o Gabeira e o Serra abdicaram da própria identidade, tornando-se o avesso do que eram, a Folha hoje não passa de um ex-jornal que virou mero  house organ da direita golpista, obcecado em fabricar factóides políticos, no afã de fornecer munição eleitoral para tais e quais candidaturas, em detrimento de outras.

Seu compromisso não é mais com a informação, e sim com a manipulação.

PARADEIRO? QUE PARADEIRO, CARA PÁLIDA?

Isto também saltou aos olhos em seu editorial do dia 17, quando,  aproveitando a exposição de um dos infinitos esquemas de corrupção existentes no Brasil, a Folha passou a lançar nada discretas insinuações golpistas:

"Nesta hora em que as pesquisas de intenção de voto apontam para uma vitória acachapante da candidata oficial, mais do que nunca é preciso estabelecer limites e encontrar um paradeiro à ação de um grupo político que se mostra disposto a afrontar garantias democráticas e princípios republicanos de forma recorrente".

Estando a candidata oficial prestes a ser eleita de forma acachapante, qual o  paradeiro que se poderá dar à ação do grupo político que o editorialista da Folha qualifica de delinquente contumaz?

Ora, se a afronta à democracia e à república vem sendo recorrente, depreende-se que o Legislativo e o Judiciário não estejam conseguindo encontrar tal  paradeiro.

Então, quem será o verdadeiro destinatário da conclamação do jornal da  ditabranda? Os fardados, que não têm a missão constitucional de serem instrumento de   paradeiro nenhum, mas a direita sempre tenta convencer a agirem como tal?

Os precedentes levam a crer que sim...


*  Jornalista e escritor. http://celsolungaretti-orebate.blogspot.com/