Prazeres são mesmo primitivos

       Como já define nosso velho e sábio Aurélio, Prazer: é sensação ou sentimento agradável, harmonioso, que atende a uma inclinação vital, alegria, contentamento, satisfação, deleite, gozo.
       Ainda que não tão velha como nosso dicionário, tenho comigo algumas definições desta sábia palavrinha.
    Obvio dizer que existem muitas formas de se obter prazer, nem sempre o que dá prazer a alguns, desperta o mesmo sentimento em outros.
Hoje sinto um prazer enorme que há alguns anos atrás sequer cogitaria, como tricotar sapatinhos para o neto que vai nascer, é um prazer verdadeiro, porém difícil de engolir.
Tem aquele prazer único que um artista sente ao assinar uma obra finalizada, e o prazer maior ainda quando ele consegue vender este trabalho.
O que para alguns não tem o menor sentido, para outros pode ser fonte do mais puro prazer.
       A vida nos dá muitos prazeres, Ah, isso dá. Dos mais simples aos mais sofisticados, dos singelos, que não dão o menor trabalho, até aqueles que você batalha uma vida inteira para conseguir.
       O prazer é talvez o mais individual dos sentidos, e certamente o mais sensual deles, há mulheres que sentem prazer no toque áspero de um tecido rústico sobre a pele, e há as que prefiram a leveza da seda a acariciar-lhes os seios nus.  Ambos causam arrepios em pessoas diferentes, de lugares diferentes e de idéias diferentes. E assim é o prazer, um sentimento primitivo.
       Há os que compram prazeres com muito dinheiro.
        Mas existem prazeres que não custam nada, ou que não tem nada haver com dinheiro, como quando um filho telefona e diz estar com saudades, e nem te pede dinheiro, tem alguma coisa que faça uma mãe mais feliz?
       Existe o prazer intelectual, do romancista que se delicia a cada capítulo que termina de escrever, não precisa de mais nada, esta pleno em sua satisfação. Ou aquele violinista, que se arrepia até os últimos fios de cabelo, ao ler uma nova partitura.
Mas há também alguns prazeres que são de uma mesquinhez medonha: quando entra aquela mulher deslumbrante no bar em que você esta, e você sabe que o seu namorado baba por ela; existe alguma coisa melhor do que ver que o rímel do seu olho direito esta todo borrado e ela não percebeu?  Bom, e aquele espírito cristão, de que as freiras do colégio tanto falavam, pode esquecer avisar então nem pensar. É um prazer horrível, mas totalmente legítimo, e se Deus fosse mulher compreendia e perdoava.
E o desportista que após perder a medalha de ouro, depois de um tombo na linha de chegada, e da uma entrevista dizendo que o importante é competir... Mentira o prazer mesmo esta em vencer.
       Existem coisas muito boas na vida _umas importantes, outras bem bobas. Um copo de vinho gelado tomado de gole em gole, em noite de amor e prazer; o cheiro do carro novo, quando você entra nele pela primeira vez; tirar o sapato que estreou hoje, e que apesar de te deixar com a silhueta lindíssima, te acaba com os miseráveis dedinhos dos pés, o resultado negativo de um teste de gravidez.
       Mas tem uma coisa completamente idiota que para mim é das melhores: você estaciona o seu carro numa rua e aparece vindo das trevas, um sujeito com o polegar para o alto, o que significa que vocês acabaram de selar um acordo de cavalheiros, e você é obrigada a concordar, mas com ódio.
       Duas horas depois você volta pronta para cumprir a sua parte no acordo, ainda com ódio é claro, e aí você não vê ninguém, que felicidade.  Tira o carro da vaga e vai saindo, quando vê pelo espelho retrovisor ele correndo pra te alcançar.
       Tudo bem, que um real não vai arruinar ninguém, mas não é uma felicidade quando dá tempo de engrenar uma segunda, sair correndo e escapar do fulano?
 Para você eu não sei, mas para mim nesta hora sinto um prazer indescritível. 

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