Carta de Referência

Costumamos passar a vida sendo cautelosas. Quando trocamos de carro, fazemos um verdadeiro check-up para verificar se a mecânica não irá nos deixar na mão na primeira esquina, tudo bem... Vá lá que seja pura precaução. Quando vamos comprar alguma coisa, fazemos uma verdadeira perícia técnica para termos certeza de não levar gato por lebre, tudo certo, pura cautela. Quando contratamos um novo funcionário é um verdadeiro drama, exigimos dele todos os seus antecedentes criminais, seu curriculum atualizado, sua origem exata, seu gosto sexual, a cor da cueca do médico que fez o seu parto, e assim por diante, sempre nos prevenindo... Muito bem, corretíssimo.

Até que um belo dia nos aparece aquele homem lindo, com aquele ar de cachorro caído de mudança, sozinho e te dando bola, isso devo confessar, toda mulher adora.  Então o que acontece? Colocamos este indivíduo dentro de nossas casas, em cima de nossas camas, e pior ainda dentro de nossos corações, sem a menor idéia de onde aquela criatura possa ter surgido, tudo o que queremos saber dele, é o que nos interessa, o gosto musical, seu filme preferido, o que gosta de comer, coisinhas bobas assim.  Com medo de que o romance se acabe, nos damos por satisfeitas com estas meras e parcas informações como sendo as mais necessárias para avaliar o caráter do dito cujo, ledo engano.

Muitas vezes pela carência que vivemos, acabamos por não reconhecer alguns sinais vitais de um mau relacionamento e como sempre diz minha sábia mãezinha, mulher apaixonada, "emburrece", ficamos totalmente cegas às coisas importantes que deveríamos saber sobre o candidato, principalmente seu histórico passado.

Claro, mas primeiramente temos que saber o que realmente nos interessa naquela pessoa, se a intenção quanto ao candidato for somente dar uma experimentadinha, aí os cuidados são superficiais, porém básicos, mas se ao contrário, queremos que este homem faça parte de nossa história, então é preciso muito mais cuidado na hora de investigar o pretendente, é preciso antes de abrir o coração, abrir a cachola e captar sinais importantes, tais como:
_Está solteiro por quê? Sim porque um homem com mais de quarenta, bonito e solteiro só pode ter problemas.

_Trabalha? Claro, porque se a criatura é daqueles tipos boêmios que adora te levar a todos os lugares bacanas e nunca se lembra de levar a carteira, então o caso é sério.
_Tem filhos? Quantos e com que idade... Importantíssimo, pois afinal quando encontramos na vida alguém com antecedentes, não podemos esquecer que o pacote vem completo, com pai, mãe, filho, cachorro e papagaio se tiver um.
_Tem casa própria? Claro, pois se a pessoa mora na casa da mãe, e você mora sozinha em um belo e confortável apartamento, a coisa é também duvidosa.

E em se tratando da escolha do espécime em questão, a coisa fica bem complicada, costumam não ter na maioria das vezes, nenhum critério básico, se a mulher for matematicamente correta nas medidas, ou seja, “uma gostosa” para os seus padrões, pronto este dado na maioria das vezes, preenche todos os seus requisitos de controle de qualidade.  Se eles soubessem... 
Mulher é uma caixinha de surpresas - sem plagiar os jogadores de futebol - capaz de levar qualquer senador a enfrentar uma CPI. Então eu me pergunto, se temos tanta cautela com as coisas banais, por que somos tão negligentes quando se trata do coração? Sou completamente a favor de se pedir uma carta de referência, aos antigos parceiros de cada um, para sabermos se vale à pena o investimento emocional, pois afinal de contas, chegar até aqui inteira, deu um trabalho imenso e não vale a pena arriscar este sossego todo para voltar a recolher o jornal espalhado no chão do banheiro todas as manhãs.
Cristiane Campos  09/10/2007

 

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