AS MENINAS DA MINHA RUA

Moro em uma cidade de interior, infelizmente já não é mais a uma pequena cidade como eu gostaria, é uma metrópole, cheia de grandes edifícios e com gente demais, carros demais e sossego de menos.
Moro atualmente em uma casa bem próxima daquela que eu nasci, no mesmo bairro, as mesmas ruas e as mesmas arvores imensas que eu adorava subir quando era criança.
Mas algumas coisas mudaram, as meninas da minha rua não são mais as mesmas, outrora eram apenas meninas que pulavam amarelinha, elástico, corda, jogavam bets e escorregavam na lama quando chovia. Hoje as vejo em pé nas esquinas das ruas por onde tanto corri e brinquei, mas elas não riem, não pulam corda, ficam ali com os corpos expostos, os olhos baixos, não vejo mais alegria e nem esperança.
Saíamos de casa muito cedo a pé e íamos para a escola que ficava a alguns quarteirões, os colégios continuam lá, mas não vejo mais as crianças andando saltitantes com seus livros nas mãos, elas estão hoje sentadas nos bancos traseiros dos carros dos pais, que não tem mais coragem de deixar estas crianças irem sozinhas pulando os ladrilhos como uma amarelinha, não, porque as esquinas estão cheias das meninas que deveriam estar carregando também os seus cadernos e escrevendo bilhetinhos de amor, ao contrário disso, elas estão ali esperando por alguns pais que ao deixar seus filhos na porta da escola, param em suas esquinas a fazer-lhes gracejos e quem sabe alguma proposta.
Esta tudo tão diferente, e ao mesmo tempo tão igual, as ruas são as mesmas, as arvores também, porém não existe mais a alegria da liberdade que tínhamos na infância.
Noto que as roupas mudaram a cor nos cabelos é diferente, os sapatos estão mais altos, as faces borradas de carmim, mas as meninas continuam sendo apenas meninas.
Os garotos que jogavam bola, burquinha, e trocavam figurinha de um álbum de super-heróis, onde estão? Procuro mas não os vejo mais, as ruas ficaram desertas de repente, vejo as estações passarem ano após ano nas folhas e flores que caem de minha arvore, mas não vejo os garotos brincando. Os quintais ganharam grades e muros, o apito de um guarda rasga a noite e desperta nosso sono que não é mais tão tranqüilo.
Ainda vejo alguns idosos que passeiam pelas calçadas sem receio, ou sem consciência não sei bem, mas as crianças onde estão?
Sinto saudades dos risos que podíamos ouvir das donas de casa varrendo suas calçadas e trocando receitas umas com as outras, enquanto corríamos ao redor recolhendo os montinhos de folhas secas.
Caminho pela rua, vou ao centro resolver coisas do dia a dia, vou andando, pois de carro é simplesmente desgastante. Faço meu trajeto olhando para o chão, pois se olhar para as meninas seria agredida por elas, que me lançariam palavras duras, como se eu tivesse alguma culpa no fato delas estarem ali, vendendo as suas esperanças junto com seus corpos mal formados.
Eu não sei o que deu errado, sei apenas que aquelas crianças atrás daquelas grades e muros altos, em frente ao aparelho de TV ou ao seu computador, não estão vendo o colorido das estações na copa das Sibipirunas. As mesmas belas arvores que servem de abrigo às meninas de minha rua, quando o sol lhes derrete a maquiagem pesada.

Cristiane Campos 12/09/2007

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