O encontro dos extremos

Nenhuma das grandes promessas da Modernidade foi cumprida. Da economia de subsistência, no feudalismo, passou-se à economia de mercado comandada pelo comércio, entre os séculos XV e XVIII. Os marxistas denominam este período de fase pré-capitalista ou da acumulação primitiva. Ela teria culminado na Revolução Industrial do século XVIII. A partir de então, o capitalismo seria dominado pela indústria e pelos bancos. Existe uma concepção evolucionista presidindo este processo histórico. Tudo se passa como se o capitalismo comercial trabalhasse para a epifania do capitalismo industrial-financeiro.

Os liberais ficaram entusiasmados com o "progresso". Preconizaram, então, o retraimento do Estado para que a economia buscasse seus próprios caminhos, como se fosse um organismo vivo. Eles acreditavam que o livre mercado alcançaria um equilíbrio natural entre capital e trabalho e entre oferta e procura. Esta grande utopia foi sendo empobrecida. A dimensão social e ética acabou dando lugar a uma desenfreada competição entre empresas e entre classes sociais.

Então, entrou em cena o socialismo, entendendo que a burguesia e o capital industrial-financeiro cumpriam o valioso papel de destruir os modos de produção pré-capitalistas e criar condições para a construção do comunismo. Quanto mais industrializado fosse um país, mais forte seria sua classe operária e mais viável seria uma revolução proletária, a derrubada da burguesia, a ditadura do proletariado, o socialismo e o comunismo. Já no século XIX, Inglaterra, França e Estados Unidos começaram a demonstrar que, quanto mais forte o capitalismo industrial-financeiro, mais expressivo é o proletariado. Mas este acaba aceitando as regras do sistema capitalista desde que participe dos seus ganhos. O sindicalismo, de fato, levou a classe operária a, no máximo, pleitear a social-democracia.

Se a sociedade justa de François Quesnay e Adam Smith não foi alcançada pelo capitalismo avançado, Marx também se enganou ao afirmar que uma verdadeira revolução comunista só ocorreria em países capitalistas muito desenvolvidos. No fim de sua vida, a russa Vera Zasulich lhe perguntava em carta se a Rússia, com uma economia capitalista ainda inexpressiva, não poderia promover uma revolução comunista. Marx lhe respondeu de forma evasiva.

Lênin, contudo, defendendo o princípio segundo o qual o capitalismo deve ser rompido em seu elo mais fraco, liderou a revolução que levou a Rússia a ser o primeiro país socialista da história. No entanto, como o capitalismo russo era incipiente, tratava-se de dar um passo atrás para dar dois adiante em futuro próximo. Stalin fortaleceu o Estado para garantir a evolução do socialismo rumo ao comunismo no país. Eslavoj Zizek sustenta que Stalin salvou a humanidade da máquina ao defender valores humanistas do século XIX. Só que, para tanto, foi necessário implantar um regime de insegurança e terror.

Mao Tse-tung já defendia que a revolução socialista deveria ser promovida pelos camponeses. Morreu muita gente lutando a seu lado ou contra ele na revolução de 1949 e na Revolução Cultural. O mesmo Zizek explica que Mao concluiu, no fim da sua vida, ser impossível ultrapassar o capitalismo. Tanto Rússia quanto China chegaram ao que são hoje: países capitalistas com governos autoritários.

Também a promessa socialista-comunista não se cumpriu. O custo ambiental e social do capitalismo e do socialismo real foi muito alto. Já em sua origem, nos anos de 1960, os ecologistas criticaram duramente as teses evolucionistas do capitalismo e do comunismo de que só passando pela industrialização pesada e a mantendo seria possível alcançar um pleno desenvolvimento. Pelo contrário, afirmam eles: tanto no capitalismo quanto no socialismo, o industrialismo é incompatível com as condições de equilíbrio que a natureza contemplou a Terra no Holoceno, nos últimos 1o mil anos.

Porém, a mística da industrialização perdura. Ela não tem mais a força de outrora. A crença no poder redentor do grande capital industrial sobrevive de forma inercial. Os liberais de todos os matizes reduziram-se aos lucros. Os socialistas pensantes não mais creem nele como antes. Tomando o caso do complexo logístico industrial portuário do Açu, nota-se que a esquerda ativista se posiciona ao lado dos pequenos produtores rurais de São João da Barra, e não ao lado da EBX. Espera-se até que o sujeito transformador da história seja o conjunto desses produtores.

Por sua vez, o ecologismo propõe que a economia se ajuste ao planeta e à humanidade, não o contrário. Seu espírito filosófico não é norteado pelo evolucionismo. Na verdade, as atividades dos pequenos produtores rurais, vista como atrasada pelo grande capital, estão mais próximas do ecologismo que o complexo do Açu. Claro que elas precisam avançar, segundo o ecologismo, mas nitidamente os extremos se tocam.

publicidade
publicidade
Crochelandia

Blogs dos Colunistas

-
Ana
Kaye
Rio de Janeiro
-
Andrei
Bastos
Rio de Janeiro - RJ
-
Carolina
Faria
São Paulo - SP
-
Celso
Lungaretti
São Paulo - SP
-
Cristiane
Visentin

Nova Iorque - USA
-
Daniele
Rodrigues

Macaé - RJ
-
Denise
Dalmacchio
Vila Velha - ES
-
Doroty
Dimolitsas
Sena Madureira - AC
-
Eduardo
Ritter

Porto Alegre - RS
.
Elisio
Peixoto

São Caetano do Sul - SP
.
Francisco
Castro

Barueri - SP
.
Jaqueline
Serávia

Rio das Ostras - RJ
.
Jorge
Hori
São Paulo - SP
.
Jorge
Hessen
Brasília - DF
.
José
Milbs
Macaé - RJ
.
Lourdes
Limeira

João Pessoa - PB
.
Luiz Zatar
Tabajara

Niterói - RJ
.
Marcelo
Sguassabia

Campinas - SP
.
Marta
Peres

Minas Gerais
.
Miriam
Zelikowski

São Paulo - SP
.
Monica
Braga

Macaé - RJ
roney
Roney
Moraes

Cachoeiro - ES
roney
Sandra
Almeida

Cacoal - RO
roney
Soninha
Porto

Cruz Alta - RS