Para discutir a questão ambiental hoje

Ecodesenvolvimento, desenvolvimento sustentável, economia verde, pegada ecológica, antropoceno. Eis as palavras mais escritas, lidas e ouvidas às vésperas da Conferência Rio+20. Você sabe o que elas significam, leitor? Se não sabe, relaxe porque aqueles que estão envolvidos até a medula com a Rio+20 também não conhecem muito bem o seu conteúdo. Faço um esforço para ajudá-los.
Há cerca de 11 mil anos, a temperatura da Terra começou a se elevar naturalmente, produzindo o derretimento progressivo da última grande glaciação. Grande parte da água, passando do estado sólido para o líquido, elevou o nível dos mares, separou terras dos continentes, formou ilhas, incentivou a formação de florestas e de outros ambientes. Os cientistas deram a esta fase nova o nome de Holoceno.
Nesses últimos 11 mil anos, restou dos Hominídeos apenas o “Homo sapiens”, que se tornou soberano em todo o planeta. Com um cérebro bem desenvolvido, ele foi desafiado pelas novas condições climáticas e domesticou plantas e animais, inventando a agropecuária, criou tecnologia para polir a pedra, inventou a roda, a tecelagem e a metalurgia. Logo a seguir, criou cidades, impérios, represas, drenagem e irrigação. Várias civilizações ultrapassaram os limites dos ecossistemas em que se ergueram, gerando crises ambientais que contribuíram para o seu fim.
Entra, então, o conceito de pegada ecológica. Ele se refere ao grau de impacto ecológico por um indivíduo, um empreendimento, uma economia, uma sociedade. A pegada ecológica das civilizações anteriores à civilização ocidental sempre teve um caráter regional, sendo reversíveis ou não. O ocidente foi a civilização que calçou as botas mais pesadas conhecidas até o momento. O peso começou com o capitalismo, que transformou o mundo.
A partir do século XV, a civilização ocidental (leia-se europeia) passou a imprimir marcas profundas com a expansão marítima. Extorquiu minérios, devastou florestas, dizimou animais e exterminou povos indígenas. Ao mesmo tempo, foi impondo sua cultura a outras áreas do planeta. O mundo foi ocidentalizado e passou também a pisar fundo no ambiente.
Veio, então, outra grande transformação com a revolução industrial, cuja origem localiza-se na Inglaterra do século XVIII. Ela se expandiu pelo mundo, dividindo-o em países industrializados e países exportadores de matéria prima. A partir dela, começa a se criar uma outra realidade planetária, com emissões de gases causadores do aquecimento global, devastação de florestas, empobrecimento da biodiversidade, uso indevido do solo, urbanização maciça, alterações profundas nos ciclos de nitrogênio e fósforo, contaminação da água doce, acidificação dos oceanos, disseminação de uma infinidade de produtos químicos, produção de poeira, adelgaçamento da camada de ozônio e extração excessiva de recursos naturais não-renováve is, que, por sua vez, produz quantidades inauditas de lixo.
Os cientistas estão demonstrando que, dentro do Holoceno (holos=inteiro+kainos=novo), a ação humana coletiva no capitalismo e no socialismo provocou uma crise ambiental sem precedentes na história da Terra porque gerada por uma só espécie. Eles estão denominando o período pós-revolução industrial do século XVIII de Antropoceno, ou seja, uma fase geológica construída pela ação coletiva do ser humano (antropos=homem+kainos=novo).
Em função dessa grande crise ou dessa nova época é que a Organização das Nações Unidas vem promovendo grandes conferências internacionais, como as Conferências de Estocolmo (1972), Rio-92 e, proximamente, a Rio+20. O objetivo é resolver os problemas do Antropoceno, seja conciliando desenvolvimento econômico e proteção do ambiente, seja buscando outras formas de desenvolvimento. A Rio-92 adotou a fórmula do desenvolvimento sustentável, que ganhou diversos sentidos, inclusive antagônicos ao original.
A Conferência Rio+20 pretende colocar em pé de igualdade as dimensões ambiental, social e econômica. A palavra mágica, agora, é economia verde, cujo conteúdo não apresenta clareza. Supõe-se que, no mínimo, signifique a substituição progressiva de fontes de energia carbono-intensivas por fontes renováveis de energia, bem como a substituição de recursos não renováveis por renováveis.
Tudo indica que a conferência está fadada ao fracasso, já que os países industrializados não querem abdicar da sua posição; os países emergentes querem alcançar os industrializados; e os países pobres querem ser emergentes. Enquanto não houver entendimento acerca dos limites do planeta, inútil pensar em justiça social e desenvolvimento econômico. Por conseguinte, o ambiente é mais importante que o social e o econômico, já que sem ele não se pode encontrar solução para os outros dois. Por outro lado, o conceito de ecodesenvolvimento parece ser o mais correto enquanto tática e estratégia.

ARTHUR SOFFIATI é historiador e ambientalista
publicidade
publicidade
Crochelandia

Blogs dos Colunistas

-
Ana
Kaye
Rio de Janeiro
-
Andrei
Bastos
Rio de Janeiro - RJ
-
Carolina
Faria
São Paulo - SP
-
Celso
Lungaretti
São Paulo - SP
-
Cristiane
Visentin

Nova Iorque - USA
-
Daniele
Rodrigues

Macaé - RJ
-
Denise
Dalmacchio
Vila Velha - ES
-
Doroty
Dimolitsas
Sena Madureira - AC
-
Eduardo
Ritter

Porto Alegre - RS
.
Elisio
Peixoto

São Caetano do Sul - SP
.
Francisco
Castro

Barueri - SP
.
Jaqueline
Serávia

Rio das Ostras - RJ
.
Jorge
Hori
São Paulo - SP
.
Jorge
Hessen
Brasília - DF
.
José
Milbs
Macaé - RJ
.
Lourdes
Limeira

João Pessoa - PB
.
Luiz Zatar
Tabajara

Niterói - RJ
.
Marcelo
Sguassabia

Campinas - SP
.
Marta
Peres

Minas Gerais
.
Miriam
Zelikowski

São Paulo - SP
.
Monica
Braga

Macaé - RJ
roney
Roney
Moraes

Cachoeiro - ES
roney
Sandra
Almeida

Cacoal - RO
roney
Soninha
Porto

Cruz Alta - RS