Ninguém é responsável

Quatro bacias hídricas principais drenam a Zona da Mata Mineira: a do Paraíba do Sul, a do Rio Doce, a do Itabapoana e a do Itapemirim. Das quatro, cortam a região norte-noroeste fluminense a do Paraíba do Sul e a do Itabapoana. A do Paraíba do Sul é a maior e recebe da Zona da Mata os afluentes Paraibuna, Pirapetinga, Pomba e Muriaé. A enchente de 2012 assolou o norte-noroeste fluminense pelos dois últimos, sobretudo.
Manoel Martins do Couto Reis, em 1785, e Antonio Muniz de Souza, em 1834, subiram o Muriaé e descreveram sua navegabilidade até o local onde hoje se ergue a cidade de Cardoso Moreira, seus longos meandros, suas extensas várzeas e suas pujantes florestas. Registraram também que engenhos de açúcar estavam subindo o vale do rio e exortaram quanto ao aproveitamento das florestas e das várzeas para fins econômicos.
Sobre o Rio Pomba, um importante depoimento foi deixado pelo naturalista alemão Hermann Burmeister, que subiu seu curso em direção a Minas Gerais, em 1850. As vastas florestas também fascinaram o viajante. Mas ele já denunciava o avanço do desmatamento.
As florestas constituíram o primeiro alvo econômico dos colonos, fornecendo lenha e madeiras nobres. Muitas delas foram sumariamente removidas por meio de fogo para a abertura de espaço destinado à agropecuária. Pouco mais de dois séculos depois de Couto Reis, a cobertura florestal do noroeste fluminense reduziu-se de 100% para 1%. As várzeas e lagoas marginais do Muriaé foram separadas do rio por diques e comportas. Intensificou-se a circulação de tropeiros entre a Zona da Mata e Campos nos dois sentidos. As rotas seguidas por eles foram substituídas por caminhos de terra, descritos pelo Major Bellegarde em 1837, e pela ferrovia Carangola, posteriormente substituída pela rodovia BR-356, que, em grande parte, cruza o leito maior do Muriaé.
Então, chegou a vez da urbanização. Laje do Muriaé, Itaperuna, Italva e Cardoso Moreira, no Muriaé. Santo Antônio de Pádua, Miracema e Aperibé, na bacia do Pomba. A maioria dos núcleos urbanos ocupa parte dos leitos de cheia ou mesmo invade o leito regular dos rios. Outros sobem encostas.
Hoje, chuvas torrenciais não contam mais com florestas e lagoas marginais para reduzir seu ímpeto. Nem mesmo diques construídos nas margens dos rios bastam para conter as enchentes. Em janeiro de 2012, a cheia do Muriaé destruiu dois diques e provocou um rombo na BR-356. Cardoso Moreira e a localidade campista de Três Vendas ficaram embaixo d’água.
Como de hábito, autoridades federais, estaduais e municipais se desculpam e se acusam. Todos são responsabilizados e ninguém assume a responsabilidade. Usando coletes da defesa civil, todos visitam as áreas afetadas e prometem soluções definitivas, mas sempre pontuais. O problema das enchentes, no norte-noroeste fluminense só será relativamente resolvido com um programa de reflorestamento, com a liberação das lagoas e de parte das várzeas como áreas de escape, com a reforma (e não meros reparos) nos diques e na rodovia BR-356 e com a transferência de núcleos urbanos para partes mais altas. Mas, pelo visto, novamente a população atingida será vítima da indústria das enchentes.

Arthur Soffiati é historiador.
publicidade
publicidade
Crochelandia

Blogs dos Colunistas

-
Ana
Kaye
Rio de Janeiro
-
Andrei
Bastos
Rio de Janeiro - RJ
-
Carolina
Faria
São Paulo - SP
-
Celso
Lungaretti
São Paulo - SP
-
Cristiane
Visentin

Nova Iorque - USA
-
Daniele
Rodrigues

Macaé - RJ
-
Denise
Dalmacchio
Vila Velha - ES
-
Doroty
Dimolitsas
Sena Madureira - AC
-
Eduardo
Ritter

Porto Alegre - RS
.
Elisio
Peixoto

São Caetano do Sul - SP
.
Francisco
Castro

Barueri - SP
.
Jaqueline
Serávia

Rio das Ostras - RJ
.
Jorge
Hori
São Paulo - SP
.
Jorge
Hessen
Brasília - DF
.
José
Milbs
Macaé - RJ
.
Lourdes
Limeira

João Pessoa - PB
.
Luiz Zatar
Tabajara

Niterói - RJ
.
Marcelo
Sguassabia

Campinas - SP
.
Marta
Peres

Minas Gerais
.
Miriam
Zelikowski

São Paulo - SP
.
Monica
Braga

Macaé - RJ
roney
Roney
Moraes

Cachoeiro - ES
roney
Sandra
Almeida

Cacoal - RO
roney
Soninha
Porto

Cruz Alta - RS