Um novo clássico da animação - RANGO

Sempre apostei em Gore Verbinski como um bom cineasta. Ele finge que indústria cinematográfica estadunidense o cooptou por com, mas sempre que aparece uma brecha, sua criatividade extravasa. Dono de uma filmografia pequena, Verbinski esbanja talento e competência na direção de qualquer gênero. Foi assim nos três Piratas do Caribe (2003, 2006 e 2007) e em O Chamado (2002). Recursos financeiros e efeitos especiais não fazem um bom diretor, mas um bom diretor sabe o que fazer com recursos financeiros e efeitos especiais. Um novo episódio de Piratas do Caribe sem Verbinski e sem Johnny Depp não teria a mesma irreverência, pois o diretor não apenas r essuscitou os filmes de piratas como também os inovou, com o atrapalhado Jack Sparrow.

A Mexicana (2001), em que, pela primeira e única vez até agora, Brad Pitt contracena com Julia Roberts, não foi tão inspirado.
Porém, O Sol de Cada Manhã (2005) se tornou um cult. Agora, com Rango (Rango, EUA, 2011), animação computadorizada, Verbinski invade um novo território e já se supera. Sem julgamento precipitado, talvez Rango seja sua obra prima. O roteiro é de John Logan, mas a história é do próprio Verbinski com Ward B yrkit. Embora o filme tenha saído dos estúdios da Nickelodeon Movies, GK Filmes e Blind Wink, a produção é bancada por Verbinski, Grahan King e John B. Carls. Assim, o diretor escapa da polarização Disney/Dreamworks, produtoras que dominam a animação nos Estados Unidos.

Rango é uma animação aparentemente dirigida a crianças. De fato, o roteiro as agrada, pois pode ter uma leitura linear. Contudo, o filme é pleno de referências a outras obras cinematográficas e até literárias, escapando não só ao adulto leigo como aos críticos. Os poucos comentários escritos até agora não conseguem identificar todas as alusões do roteirista e do diretor.

Logo no início, Rango, um camaleão que se pretende artista, lida com o busto de um manequim sem cabeça e sem o braço esquerdo e com um peixe movido a corda. A nudez do manequim seria condenada em outros tempos, mas, agora, com a sexualização dos filmes infantis, ele é aceito com naturalidade. Um acidente de trânsito lança Rango e seus dois companheiros numa autoestrada que corta um deserto. O camaleão se depara com um tatu vestido como Dom Quixote que lhe coloca uma questão a título de metáfora. Assim, Rango mergulha num deserto de western espaguete. Não os desertos que estamos acostumados a ver nos westerns norte-americanos e italianos, mas um deserto poluído por garrafas, latas, tambores, pneus e despejo de esgoto. A paisagem está contaminada, trazendo-nos um problema da atualidade.

Nesse ambiente árido, aparentemente sem vida, Rango encontra cactos e um sapo que se finge de morto para escapar de uma águia caçadora. Verbinski não poupa as crianças de cenas de morte, como acontece na maioria das animações, em que a morte não ocorre, a despeito de toda a violência, ou não passa de um longo sono que terminará com o beijo de um príncipe. Rango é realista ao estampar a cadeia alimentar com toda a naturalidade.

Ainda perdido no deserto, o camaleão esbarra numa fêmea de lagarto nitidamente inspirada em Neytire, a guerreira Na'vi do filme Avatar, interpretada por Zoe Saldaña. Curiosamente, o nome dela é Feijão. Trata-se de uma pequena proprietária rural, cujas terras herdou do pai e delas cuida sozinha com destemor. Eis uma alusão a mulheres jovens que enfrentam poderosos arrogantes e ambiciosos presentes nos westerns, como podemos ver na nova versão de Bravura Indômita, dos Irmãos Coen.

Dust, a cidade em que Rango aporta no meio do deserto, é típica do oeste norte-americano. Ela é povoada por animais feios e sujos. Verbinski trabalha de forma excelente com a estética da feiúra, não poupando o espectador de detalhes repelentes. De imediato, o camaleão procura se entrosar e ser aceito pelos habitantes valendo-se da mentira e da bravata. Ele se torna xerife da cidade sem nunca ter colocado a mão num revólver. É um farsante e, ao mesmo tempo, um indivíduo com crise de identidade. O grande problema da cidade e da região é a falta d'água. Outrora, o vale era muito úmido, mas, misteriosamente, a água desapareceu. Toda a trama gira em torno da água, como em Chinatown (1974), de Roman Polanski, ou Quantum of Solace (2008), de Marc Forster, pois, mais do que o petróleo, a água será motivo de conflitos no futuro próximo.

Na periferia da empoeirada Dust, da qual Rango, nome que remete a Django e a Durango, é xerife, vive uma comunidade de caipiras imundos. Eles são perseguidos pelos moradores da cidade e os perseguem voando sobre morcegos, numa eletrizante cena típica de Guerra nas Estrelas. Há muitas outras alusões discretas que podem passar despercebidas, como o monótono ranger dos ventiladores ou de um catavento, que refere a Era uma vez no Oeste (1968), de Sergio Leone.
Assalto a um banco, duelo ao meio-dia, com o grande relógio público a mostrar a hora, vilões que pretendem enriquecer com o "progresso" e modernizar o crime . Por fim, o "Espírito do Oeste", entidade que homenageia os caubóis dos antigos westerns, tudo indicando ser uma referência a Clint Eastwood.

Rango já nasce clássico. Podem anotar.

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