Até quando o mundo vai sustentar a farra dos donos do petróleo?

Entre julho e dezembro de 2008 – num intervalo de apenas 5 meses - o preço de referência do barril de petróleo em Nova York passou de US$ 147 a US$ 38 – uma queda de cerca de 75%. Evidentemente, mesmo vendendo com uma redução desta magnitude no preço, os produtores permaneceram tendo lucro, o que implica deduzir que os mecanismos de mercado não têm tido qualquer influência sobre o prosaico “equilíbrio” entre a oferta e a demanda.

    Não custa relembrar que o custo de produção do petróleo, incluindo os custos de descoberta e taxas, não passa de US$ 6 por barril na maioria dos países da OPEP. Portanto, mesmo após a acentuada queda dos preços, o lucro dos produtores ultrapassa os 500%. Quando preço estava a US$ 147, este lucro era de 2300%! Nada mais imoral!

    Não é possível nem justo que o mundo todo se torne refém de uma dúzia de mega-corporações privadas que se utilizam da fachada da OPEP para se apossarem de uma parcela tão significativa da renda mundial, concentrando riqueza e poder de forma tão desmesurada. Não se trata de isentar os governos dos países da OPEP de culpa, evidentemente. Os países da OPEP formam um iníquo cartel isento de qualquer controle que ainda se dá ao luxo de acobertar a ganância de empresas privadas com sede no chamado “primeiro mundo”, a saber: Shell, Exxon Mobil, Total, Chevron, British Petroleum, Elf Aquitaine e outras menos cotadas.

    O curioso é que esta situação já perdura quase quatro décadas. Teve início em 1973, durante a guerra do Yom Kippur – entre Israel, de um lado e Síria e Egito de outro. Naquela ocasião, o preço do barril quadruplicou num intervalo de apenas três meses (de US$ 3 para US$ 12), ao passo que o custo de produção manteve-se estável. Esta foi uma forma de os países árabes chantagearem o ocidente que apoiou Israel no conflito. Esqueceram-se os árabes que as grandes companhias ocidentais detinham concessões para exploração e produção no Oriente Médio e, portanto, se beneficiaram por tabela com a elevação do preço do óleo.

    Um novo choque nos preços do petróleo ocorreu em 1979, com a eclosão da revolução dos aiatolás, no Irã, que resultou da deposição do Xá Reza Pahlevi e na paralisação da produção do país. Vale lembrar que o Irã é o segundo produtor mundial de petróleo, atrás apenas da Arábia Saudita. Naquela oportunidade, o preço do petróleo saiu de US$ 12 o barril para mais de US$ 35 (em valores da época).

    De lá para cá, o preço do petróleo tem flutuado livremente ao sabor dos ventos, porém sempre preservando as enormes margens de lucro dos produtores, sejam eles empresas estatais dos países da OPEP ou as mega-corporações privadas com sede nos países do ocidente.

    É estranho que nada demonstre com mais clareza a ineficácia do mercado para regular preços do que o caso do petróleo. Não se pode negar o peso do cartel da OPEP – os países-membros da OPEP produzem cerca de 40% da demanda mundial – nos negócios petrolíferos. Há, entretanto, outros atores de peso no cenário que poderiam muito bem intervir para reduzir a dependência do cartel. Do lado da oferta há a Rússia, Canadá, Noruega e outros produtores de peso. Do lado da demanda soa estranho como os EUA, os países da Europa Ocidental e o Japão, todos grandes importadores de petróleo, se quedem passivos ante o cartel sem buscar alternativas para sua dependência. A única explicação que me parece plausível é que esses países buscam, com sua passividade, favorecer suas empresas transnacionais nos negócios com óleo é gás natural, assim como os países ricos buscam favorecer seus bancos no mercado financeiro global.

    A conclusão a que se chega é que o sistema capitalista é inerentemente produtor de injustiça. Ele estabeleceu uma civilização baseada no consumo maciço de energia e tornou a principal fonte de energia que aciona o sistema um obstáculo ao seu uso, através de seu preço manipulado por um cartel. Um sistema justo e socialmente sustentável já teria partido para outro modelo de desenvolvimento, livrando toda a humanidade do ônus de assegurar o enriquecimento dos acionistas de quinze ou vinte empresas.

   
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