O imbroglio do gás natural

O gás natural é encontrado na natureza no subsolo, geralmente associado ao petróleo, sendo o responsável pela pressão do reservatório que faz com que o óleo se eleve à superfície para ser produzido, refinado e consumido, sob a forma de derivados industrializados. Ele próprio – o gás natural – é um excelente combustível, composto basicamente por metano e etano. É um combustível superior ao petróleo em termos ambientais já que traz consigo uma menor concentração de contaminantes nocivos à saúde. Entretanto, sua queima também produz gás carbônico, o que torna desaconselhável seu emprego, à vista da crescente preocupação com as conseqüências da queima de combustíveis fósseis, por seu efeito deletério sobre as alterações climáticas em curso em nosso planeta. As reservas mundiais provadas de gás natural são imensas. Em termos de conteúdo energético são até mesmo superiores às de petróleo. As mais expressivas estão situadas na Sibéria Ocidental – que correspondem a 25% das reservas mundiais provadas - hoje exploradas, em sua maior parcela, pela gigante estatal Gazprom e algumas empresas privadas menores. Recentemente, todavia, o governo russo outorgou o monopólio da exportação de gás natural à sua empresa estatal – a já mencionada Gazprom - agravando o desconforto dos europeus. Boa parte desse gás é transferida por extensos gasodutos para a Europa e, em breve, o será também para a China e a Índia. Atualmente, a Alemanha depende de 42% de gás natural importado da Rússia, a Itália depende de 29% e a França de 21%.

Diversamente do petróleo, as áreas produtoras de gás natural ao redor do globo estão mais concentradas, sendo as mais importantes a já citada Sibéria Ocidental, a foz do Rio Mackenzie (Canadá), o Golfo do México (EUA e México), a foz do Rio Orenoco (Venezuela), parte do Golfo Pérsico (Irã e Qatar), o delta do Rio Níger (Nigéria) e o litoral da Argélia. Na verdade, 60% das reservas mundiais de gás natural se encontram em apenas três países: Rússia, Qatar e Irã.

A crítica dependência européia de fontes de energia importada tem sido motivo de constante preocupação para seus dirigentes políticos e planejadores, o que tem justificado seus esforços no sentido de escapar a esta situação desconfortável, até aqui sem sucesso, fato que os levou a optar pelo uso da energia nuclear em larga escala.

Cruzando o Atlântico, encontramos cá na nossa América Latina, um quadro similar ao europeu. Os principais países produtores de gás natural são, pela ordem, a Venezuela, Bolívia, Brasil, Argentina e Peru que se prepara para, em breve, ser um razoável produtor e exportador regional. O principal consumidor regional é o Brasil, cuja demanda hoje alcança o volume de 51 milhões de m3/ dia, dos quais, cerca de 26 milhões de m3/dia, são de produção doméstica, complementada pela importação de 25 milhões de m3 da Bolívia. A similaridade com a situação européia, no caso do Brasil, é total. Os europeus não confiam nos russos por fatores históricos, culturais e, sobretudo, políticos. A dependência brasileira do gás boliviano também deve considerar os graus de instabilidade social e política crônica no país vizinho, haja vista a recente expropriação de ativos petrolíferos estrangeiros - inclusive da Petrobrás - levada a efeito naquele país.

Para agravar o quadro brasileiro, o atual contrato de fornecimento de gás boliviano ao Brasil estabelece um preço draconiano para com o fornecedor, equivalente a cerca de 55% do preço pago pelo mesmo gás em outras áreas do mundo. A cotação média do gás natural no mercado mundial é de cerca de US$ 9 por milhão de BTU (unidade térmica inglesa equivalente a 252 calorias), enquanto o Brasil paga aos bolivianos apenas US$ 5 por milhão de BTU. Com muita propriedade, o governo boliviano tem pressionado o brasileiro por uma revisão imediata desses preços. O clima de tensão gerado pode resultar até mesmo em interrupção do fornecimento. Por outro lado, aceitar um realinhamento puro e simples do preço do gás boliviano resultará num repasse do novo preço para o mercado interno brasileiro, já que boa parte do parque industrial das regiões sudeste e sul de nosso país foi incentivado a migrar do óleo combustível para o gás natural, como fonte de energia primária. Isto produziria inflação do lado de cá da fronteira

A alternativa seria o aumento da produção nacional, porém até aqui as novas descobertas não se têm concretizado na mesma medida dos elevados investimentos havidos em prospecção. Há grandes esperanças de novas descobertas nas Bacias de Santos, do Espírito Santo e da Amazônia Ocidental. Entretanto, qualquer prognóstico mais seguro no momento é incerto e desaconselhável.

Outra opção em estudos pela Petrobrás é a importação de gás natural liquefeito, sob elevadas pressões, de outras origens, através de navios-tanque. Esta opção traz consigo um aumento de custos, particularmente do frete, além de exigir investimentos em infraestrutura específica destinada a liquefazer o gás na origem e regaseificar o gás natural no destino, antes de enviá-lo para o consumo.

Argemiro Pertence – Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

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