Especular é preciso

Vivemos a era dos absurdos também em matéria de energia. Ao contrário dos laboratórios farmacêuticos multinacionais, as empresas produtoras de petróleo divulgam abertamente seus custos de produção: segundo elas, esses custos variam de US$ 3 por barril (um barril equivale a 159 litros) no Oriente Médio (Arábia Saudita, Irã, Kuwait, Emirados Árabes e Qatar) a US$ 6 por barril no Brasil (dados da Petrobrás). Pois bem, com a maior desfaçatez e sem a menor sensibilidade, essas mesmas empresas vendiam, no dia 15 de outubro último, o petróleo que elas extraem a esses custos por cerca de US$ 85 por barril – uma margem de ganho que varia de 1300% a 2700%!

A “explicação” para a alta do preço no dia 15 de outubro foi a instabilidade político-militar na fronteira entre a Turquia e o Iraque provocada por escaramuças dos curdos que puseram em cheque as exportações de petróleo iraquianas atravás do oleoduto Kirkuk-Ceyhan que cruza o norte do Iraque, área onde se concentram os curdos. Trocando em miúdos, o Iraque exporta cerca de 600.000 barris por dia de petróleo das regiões de Kirkuk e Mosul (norte do país) através de um oleoduto de 960 km de extensão que liga a área de Kirkuk ao compelexo portuário de Ceyhan, no litoral turco no Mar Mediterrâneo. Os destinos finais deste petróleo são a Europa Ocidental e os Estados Unidos.

O  noticiário informava que o Parlamento turco estava a ponto de iniciar um “debate sobre uma eventual intervenção militar” na fronteira iraquiana. O governo turco chegou mesmo a afirmar naquele dia que realizaria, se necessário, operações transfronteiriças para erradicar os acampamentos da organização separatista armada do Partido dos Trabalhadores do Kurdistão, instalados no norte do Iraque.

Os curdos estão espalhados pela Turquia, norte do Iraque, norte do Irã e por alguns países do Cáucaso, ex-membros da antiga esfera da influência da União Soviética. São, em resumo, um povo sem país. Alegam os curdos, a seu favor, terem participado como voluntários das tropas da coalizão que derrotou Saddam Hussein na Guerra do Golfo em 1991.

A Turquia, por sua vez, é, ao lado de Israel, uma importante ponta de lança dos interesses dos Estados Unidos na região. Pelas bases militares americanas instaladas na Turquia transitam 70% dos combustíveis e suprimentos bélicos para atender à demanda das tropas dos EUA na área.

Sendo a Turquia apenas um pau-mandado do império norte-americano no Oriente Médio, não faz sentido que, à revelia da permissão dos patrões, o governo turco se arvore em criar instabilidade na região, ameaçando o suprimento de petróleo de toda a Europa Ocidntal e Estados Unidos, apenas para afirmar seu poder de fogo perante uma minoria insatisfeita. O governo americano não permitiria semelhante loucura. Seria muito mais fácil ordenar ao governo turco que fizesse algumas concessões aos curdos.

Para explicar o quadro, aparentemente confuso, precisamos voltar ao custo do petróleo e seu preço de venda no mercado. Qualquer instabilidade na região serve como desculpa para que as corporações americanas e européias elevem especulativamente o preço do petróleo. Assim, as manobras do governo turco e a aparente inação do governo Bush têm, ao fim das contas, um único e claro objetivo: ampliar o lucro das empresas privadas de petróleo. É o estado trabalhando em prol da concentração de riqueza. Já há quem diga que quem governa o mundo de hoje são as mega-corporações multinacionais privadas. Os governos servem apenas como mordomos dos interesses dessas empresas. Já há até quem anteveja que, em breve, o mordomo será despedido por ter se tornado desnecessário.

 

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