A Primeira Cruzada e a conquista de Jerusalém

Pano de fundo das guerras santas e conquista de Jerusalém na Primeira Cruzada, a cidade santa para Judeus, Cristãos e Muçulmanos.

As Cruzadas vistas sob uma perspectiva árabe, é um documentário em quatro capítulos que narra a dramática história das Cruzadas vista sob o olhar árabe, desde a tomada de Jerusalém, sob o papa Urbano II, em 1099, até a sua retomada por Salah ad-Din (também conhecido como Saladino), os esforços de Ricardo Coração de Leão para retomar a cidade e o fim das guerras santas, em 1291. No capítulo 1, exploramos a história da Primeira Cruzada e a conquista de Jerusalém.

As Cruzadas são a síntese de “guerra santa”. Contudo, as raízes desse conflito de 200 anos não estão apenas na religião, mas também na situação econômica da Europa medieval.

“No tempo das Cruzadas, a Europa estava experimentando diferentes secas que faziam as pessoas perder a fé em tudo”, informa Antoine Domit, professor de história na Universidade Libanesa.

Depois de séculos de dominação europeia, majoritariamente por meio dos exércitos da Roma imperial, a Bacia Mediterrânea tinha caído de modo firme sob o controle muçulmano. Assim, os muçulmanos cercaram a Europa, da Espanha no oeste ao Mediterrâneo oriental no leste.

“Para os europeus, o oriente significava ‘as mil e uma noites’. Representava riqueza, belas roupas, jovens concubinas, vida pública próspera, canções e cultura”, diz Elias al-Kattar, professor de história na Universidade Libanesa.

Enquanto os muçulmanos no leste viviam em prosperidade, a Europa tinha escorregado para a relativa pobreza e o conflito.

“A sociedade medieval ocidental era uma sociedade feudal, o que significava que havia uma aristocracia a cargo de uma grande quantidade de pessoas que não tinham terras”, informa Jan Vandeburie, da Escola de História, da Universidade de Kent.

Ishaaq Abaid, professor de história da Universidade Ain Shams, explica que “somente um por cento da população, as pessoas que tinham títulos de ‘conde’, ‘duque’ ou ‘barão’, possuíam toda a terra agricultável. Noventa e nove por cento da população europeia era qualificada apenas como servos e trabalhava nessas terras”.

A maioria dos europeus do Século XI vivia na pobreza e lutavam para sobreviver enquanto a guerra e o conflito entre cavaleiros eram parte da vida diária.

 

O papa Gregório VII e a ideia de uma guerra santa.

Do outro lado do Mediterrâneo prevaleciam uma relativa prosperidade e as riquezas culturais do mundo Muçulmano, porém, a fachada brilhante escondia profundas divisões políticas e religiosas. A partir de meados do século IX, o Califado Abássida foi progressivamente passando ao controle de diferentes dinastias. Os califas, tidos como líderes universais do Islã, não eram nada mais que fantoches nas mãos de ministros, comandantes militares e até mesmo de servos.

“Os cruzados não excediam em número a população nem tinham mais força e habilidades para a luta. Ainda assim, saíra-se vitoriosos por causa das divisões demográficas e políticas dos muçulmanos” - Qassem Abdu Qassem, chefe do Departamento de História da Universidade de Zagazig (Egito)

Os turcos muçulmanos Selêucidas começaram a expandir seu império em todas as direções. A expansão mais séria e significativa foi na Ásia Menor, à custa do Império Bizantino Cristão. E, após a batalha de Manziquerta, em 1071, os Selêucidas chegaram mais perto de Constantinopla, a grande capital do Império Bizantino. Fizeram Romanus Diógenes como prisioneiro e seu sucessor, o imperador Alexios Komnenos, foi chamado na Europa Ocidental a ajudar.

“O papa Gregório VII viu esta como uma ótima oportunidade para tornar realidade seu sonho de controlar a igreja do Santo Sepulcro e reunir todas as forças armadas sob a liderança papal em uma campanha que ele chamou de ‘o Projeto do Senhor’”, informa Qassem Abdu Qassem, chefe do Departamento de História da Universidade de Zagazig.

Zubeida Atta, professora de história na Universidade de Helwan (Egito) diz: “o papa Gregório teve a ideia de uma guerra santa. Foi ele quem teve a ideia de enviar uma campanha ao oriente para recapturar o túmulo de Jesus das mãos dos muçulmanos, quem ela acreditava terem-no tomado a força”.

Quando o papa Gregório morreu em 1085, antes de transformar seu projeto realidade, seu ambicioso sucessor, Urbano II assumiu a missão.

“Ele era um fanático e acreditava seriamente na exportação do catolicismo e na militarização do cristianismo”, informa Muhammad Moenes Awad, professor de história na Universidade de Xarja (Emirados Árabes Unidos - EAU).

 

A Primeira Cruzada: “É a vontade de Deus”

image 7Concílio de Clermont – 1095 (Getty Images)

A Primeira Cruzada foi convocada em novembro de 1095 pelo papa Urbano II na cidade francesa de Clermont, onde ele realizava um Concílio da Igreja Católica. Porém, o que se iniciou como uma reunião religiosa sofreu uma dramática reviravolta quão o papa Urbano fez um discurso seria o ponto de partida para dois séculos de derramamento de sangue.

Ele se dirigiu às ansiedades espirituais do homem comum e prometeu penitência para aqueles que fossem e lutassem nas guerras santas.

“Lutar é vosso dever, vós tendes de continuar lutando para defender nossa propriedade, nossas terras. Nossa propriedade que é vossa. Temos que combater esses não-crentes e reclamar nossa terra santa. É a vontade de Deus”.

O papa Urbano II preparou um cronograma para a primeira campanha que seria lançada no verão de 1096. Todavia, alguns ignoraram a ordem e encontraram um líder que imediatamente iria guia-los ao oriente, um velho monge de nome Pedro, o eremita.

Esses primeiros cristãos entusiastas, mas indisciplinados partiram em direção a Jerusalém foram esmagados pelos muçulmanos selêucidas na Ásia Menor.

Mas agora, no verão de 1096, forças mais potentes, maiores e organizadas estavam se reunindo e avançando na direção leste. Esses exércitos, que formavam a Primeira Cruzada, eram comandados por figuras da nobreza Europeia.

“Esses exércitos saíram da Europa Ocidental na direção da Terra Santa. Alguns foram defender sua reputação, ao passo que outros buscavam adquirir novas terras e construir um império,” informa Abdu Qassem.

image 8Os exércitos da Primeira Cruzada se deslocando na direção leste em 1096 foram comandados por figuras da nobreza europeia (Getty Images)

Ao final de 1096, os exércitos europeus começaram a chegar à capital bizantina, Constantinopla.

De acordo com o professor Said al-Bishawy, da Universidade Aberta de Jerusalém, os cruzados juraram fidelidade ao imperador bizantino, Alexios Komnenos, e prometeram retornar às terras tomadas pelos turcos selêucidas. Essa barganha foi necessária para que eles tivessem garantida a permissão para avançar na direção do leste.

Após cruzarem o Bósforo, os cruzados marcharam para a capital selêucida na Ásia Menor, a cidade de Niceia. Fieis ao juramento feito ao imperador, a cidade de Niceia foi devolvida aos bizantinos. Porém, à medida que os cruzados continuavam em sua marcha vencedora na Ásia Menor, sua santa tarefa foi, por algum tempo, posta de lado, sendo que alguns deles fizeram um desvio para a cidade de Edessa.

Um dos comandantes, Balduíno de Bolonha, dirigiu-se a Edessa que se tornou o primeiro estado cruzado a ser fundado no Oriente.

“A tomada de Edessa demonstra que os cruzados não eram guiados por quaisquer ditames religiosos. O cruzados vieram sob a desculpa de liberar o Santo Sepulcro dos infiéis e não-crentes. Porém Edessa não estava no caminho para Jerusalém, não tinha qualquer tumulo dos discípulos de Jesus e não era um lugar de peregrinação”, diz Muhammad al-Makhzoumy, professor de história da Universidade Libanesa.

O principal exército, entretanto, marchou para as muralhas de Antioquia, a cidade apelidada de “o berço do cristianismo” já que o termo “Cristão” originou-se ali.

Em junho de 1098, Antioquia caiu e passou a ser governada por Boemão, o normando, príncipe de Taranto.

Quando os cruzados chegaram pela primeira vez a Antioquia, juraram fidelidade ao imperador bizantino. Porém, quando tomaram a cidade, eles não a devolveram ao imperador conforme prometido. Ficaram com a cidade para eles.

Após Antioquia, os exércitos finalmente se dirigiram ao sul, na direção de Jerusalém.

 

image 9Em julho de 1099, os cruzados finalmente entraram em Jerusalém (Getty Images)

Em julho de 1099, após três anos de uma longa marcha, sangrentas batalhas, pragas e fomes, os cruzados finalmente entraram em Jerusalém.

“Eles liberaram as tensões reprimidas de três anos em marcha e chegaram afinal ao seu alvo espiritual. Assim, tornou-se verdade a situação que os cruzados desejavam para purificar a cidade e tomá-la de volta para si”, diz Jonathan Phillips, professor de história da Universidade Royal Holloway, em Londres.

De acordo com Antoine Domit, eles começaram com um infame massacre. “Eles mataram pessoas nas ruas, nas suas casas e nos becos da cidade”.

Vanderburie explicou que foi muito difícil para os cruzados distinguir na população os cristãos locais, muçulmanos e judeus porque todos se assemelhavam muito, ou todos “pareciam ser árabes”.

“O sucesso da Primeira Cruzada na conquista de Jerusalém foi, importante não apenas porque realizou um sonho europeu, mas também porque castigou os muçulmanos e árabes por suas divisões e lutas internas”, diz Abdu Qassem.

Com a captura de Jerusalém, a Primeira Cruzada chegou a seu objetivo. Porém, esse sucesso inicial não iria durar; ele seria apenas uma dramática cena de abertura de uma luta bem mais longa. E à medida que o renascimento muçulmano começava, o terreno estava posto para mais dois séculos de Cruzadas.

 

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