Sobre a campanha do segundo turno ou porque Dilma tem vantagem (contrariando a onda que acredita em Aécio)

Neste momento, faltando 12 dias para o segundo turno, há algumas certezas no ar:
1 - o pais continua em uma polarização de encruzilhada. Muitos não gostam dela e ficam blasfemando contra as forças políticas do PSDB e do PT. Bobagem isso: é brigar com a realidade.
2 - Marina Silva terminou quase igual a 2010. Ela realmente importa? Para a imensa maioria que votou nela não vejo como ela pode imaginar que influencia alguém a votar em Aécio. Quem decidiu o fez antes de seu apoio e quem o fez indo para Dilma também o fez apesar de Marina. Qual a maior coerência do eleitor típico e insatisfeito com a "velha"política? Mesmo que eu considere uma besteira, o coerente é anular seu voto e permanecer na postura olímpica de "não aceito isso".
3 - Não se sabe quem vai vencer. Mas, daí não se segue que não podemos inferir alguns dados. O empate virtual ao início do segundo turno é uma boa notícia para Dilma. Por que? Vamos lá:
A - O eleitorado se acomodou entre domingo e sexta, dias que uso apenas para um marco. Nesse primeiro movimento, Aécio cresceu, encostou e pode ter ultrapassado;
B - após este movimento, a campanha retomou e novos fatos foram acrescidos. Em um dos seus lentos movimentos, Marina somente apoiou Aécio na segunda, dia 13. Demorou e tornou-se mais irrelevante. As bombas da mídia chegaram e passaram: delação premiada em horário nobre (deve ser a única do mundo), ataques a Petrobrás, apoio a Aécio de Felicianos, Bolsonaros e Malafaias; entrevista confusa do ex-presidente, ex-sociólogio e ex-inteligente Fernando Henrique sobre eleitores "desinformados, o costumeiro circo da mídia. Que aconteceu? A divisão se ampliou e eles estão empatados com tendência de Dilma se recuperando.
C - muitas vezes analistas se esquecem que o segundo turno cristaliza posições rapidamente. Mas há um percentual do eleitorado que se reacomoda. E muda. Quem mais cresceu diante do maior amorfismo do eleitorado? Aécio.. Agora, amigos, na hora de decidir, o maior amorfismo não favorece Aécio - desde que a campanha de Dilma se encarregue de desmontar o que significa seu projeto.
D - Este último ponto acima é o mais importante. Por que? Porque é aqui que a política entra, é onde a ação da campanha faz diferença. Vejamos um exemplo: Aécio vai a Pernambuco desesperado procurando crescer no nordeste e consegue apoio da família de Eduardo Campos. Mas, Pernambuco foi um estado onde Marina venceu e, convenhamos, o peso da família Campos pode valer emotivamente mas no conjunto do estado não tenho certeza. Quem é um grande eleitor em Pernambuco? Lula. Quem mais favoreceu o estado esses anos? Os governos do PT. Portanto, mesmo onde Aécio quer levar vantagem, o cenário lá pode mudar pró-Dilma. O fato de Aécio contar com uma campanha totalmente negativa, operando sempre no negativo: até quando isso funciona no eleitorado que pode aderir ou se afastar? À medida que o tempo passa, a campanha de Dilma deve desconstruir essa sinistrose monotemática e pergunta cromo ele vai governar com isso. E existem todas as contradições relativas às adesões. Em suma: a politização e as comparações são muito mais favoráveis a Dilma que a ele..
E - A distribuição de voto pelo país é outro elemento. O nordeste dará grande vitória a Dilma e lá Aécio deve tentar quebrá-la. É sua única chance de crescer além de seu eleitorado tradicional. Ele vence no sul e no centro-oeste, vence no sudeste, deve dividir e perder na região norte. A diferença? No primeiro turno ele já havia vencido nessas regiões. Mas, para Dilma, trata-se do seguinte: dá para crescer mais no nordeste: sim! Dá para alavancar um pouco em SP e Minas? Sim. Vai vencer no Rio e pode vencer no Rio Grande do Sul. quebrando um pouco no centro-oeste. Isso dá a ela a vantagem que precisa.
F- Há um problema para Dilma. Os eleitores mais jovens e de renda média para cima tendem a preferir Aécio. Isso se deve à combinação do desgaste do próprio governo em setores de renda média- alta - não se contraria interesses sem reação - e o fato de muitos jovens enxergarem o governo Dilma pela lente geracional. O que isso significa? Escrevi nesse blog sobre isso há alguns dias. Quem cresceu na maior prosperidade já deseja mais e, por sua vez, não vê o PT como um aglutinador de seus interesses mais imediatos. Marina capturou sua parte, Aécio manteve essa captura e aqui Dilma avançou pouco. É preciso um temário de juventude que foi pouquíssimo explorado. O voto em Aécio aqui é muito mais inercial que convicto. aqui reside um terreno quase matemático. quebrar uma pequena parcela desse eleitorado é muito importante para Dilma.
G - ainda que assim seja - uma campanha esquerda (centro) x direita (centro), não é isso que move o eleitorado que muda. É a vida concreta onde a batalha se manifesta. Aí cabe mostrar que essa vida melhorou em governos do PT e não nos sinistros anos de 1990. Faz parte do item D, da politização, e a campanha de Dilma pode fazer isso.
H - E, por último, creio que a ação de rua e na internet é muito mais efetiva a partir da militância que defende Dilma. Aécio é um arsenal de meias medidas, de um governo pífio em Minas que ele não mostra na TV, de um ex-presidente e um vice que ninguém quer e as comparações são desfavoráveis. Na hora da guerra existe um exército que se movimenta, sem a "militância" remunerada do PSDB, que enfrenta o debate e disputa corações e mentes. A ação de campanha de Aécio depende demais da TV - ele não ajuda pessoalmente - e do sentimento anti-petista de alguns setores.
Então, alguém poderia dizer: mas, tudo o que esta escrito também pode valer para Aécio, ele também pode capturar ou manter o que conquistou. Claro que pode - e claro que Aécio pode ganhar. Eu somente não acredito que vá.Por que? Pela soma dos itens de B a H, porque Dilma, passado o movimento pró-Aécio, vai se recuperar, ultrapassar e atingir de 4 a 5 pontos além de Aécio perto do pleito. Isso porqueos novos fatos não criaram um tsunami pró-Aécio nessa primeira semana; o amorfismo do eleitorado agora favorece Dilma, que atua mais em camadas mais vastas da população; o PT pode politizar muito mais a campanha; descomprimir algumas regiões do país e crescer um pouco em cada - onde ela já perdeu - favorece Dilma; a comparação com o passado e mostrar o que fez dá vantagem a Dilma, Aécio não mostra nada; a possibilidade de ação nas ruas é maior para Dilma. Finalmente, se ela encontrar um tom para falar aos mais jovens, muito melhor.
Claro que existem alguns "se" e é óbvio que nada se sabe em definitivo. Mas, à luz de algumas evidências, creio que Dilma se recupera de algo que tenha perdido com mais facilidade. Se com tudo que já ocorreu na mídia e na gritarialacerdista estão empatadas, gritaria apelativa até com redução da maioridade penal, agora é hora de virar e expandir. Pode não ocorrer, ninguém defende a bola de cristal. Mas que existem elementos de otimismo, claro que existem. Será uma vitória apertada. Desde que as pessoas não se impressionem com pesquisas estranhas, denúncias vazias e a mídia. Ou, ao fim de tudo, como sou de esquerda e não me envergonho disso, por que não citar alguns colegas de jornada?

José Carlos Mariátegui, o grande marxista peruano: "Pessimismo da realidade e otimismo do ideal";

ou o grande Antonio Gramsci, para os mais céticos e entre os quais não me incluo: "Pessimismo da inteligência, otimismo da vontade".

Eduardo Salomão Condé
(professor da Universidade Federal de Juiz de Fora)

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