Obama olha além de Mubarak

Washington, Estados Unidos, 2/2/2011 – Diante das maciças manifestações no Egito nos últimos dias e da grande concentração de ontem no Cairo, o governo dos Estados Unidos parece ter concluído que o regime de Hosni Mubarak deve cair por si só. A administração de Barack Obama evita pedir publicamente a Mubarak que renuncie, apesar dos expressos pedidos de quem emergiu como novo líder egípcio, Mohamed El-Baradei, ex-diretor da Agência Internacional de Energia Atômica.

Assim o aconselharam especialistas independentes em política externa e Oriente Médio, que se reuniram no dia 31 de janeiro com funcionários do governo na Casa Branca. O encontro aconteceu depois que Obama divulgou um comunicado dizendo que “apoiava uma transição ordenada (no Egito) para um governo responsável quanto às aspirações do povo”. No encontro, do qual nada foi informado à imprensa, estiveram altos funcionários do Conselho de Segurança, incluindo o segundo em comando nesse órgão, Ben Rhodes.

A declaração de Obama foi repetida palavra por palavra em um comunicado de imprensa sobre as conversações que o vice-presidente, Joseph Biden, manteve com o rei de Bahrein, Hamad bin Isa al-Khalifa. “Tenho a impressão de que estão muito concentrados no que virá depois de Mubarak”, afirmou um dos analistas que estiveram na Casa Branca e que pediu para não ser identificado.

“Havia um acordo geral de que não poderia ocorrer uma transição ordenada com Mubarak, e também se questionava muito se Soleiman poderia ser parte de uma transição aceitável”, disse à fonte à IPS referindo-se ao general Omar Soleiman, ex-chefe de inteligência egípcio a quem Mubarak nomeou vice-presidente, no dia 30 de janeiro. “Vários comentaram que Soleiman desdenhava o tipo de reforma democrática que havíamos pedido e que sua chegada à Presidência (caso Mubarak renuncie) tinha poucas probabilidades de reduzir as manifestações no Egito”.

Enquanto acontecia a reunião na Casa Branca, a oposição egípcia convocava para ontem no Cairo a Marcha do Milhão, e as Forças Armadas divulgavam uma declaração prometendo não reprimir os manifestantes. “Ao grande povo do Egito, suas Forças Armadas, reconhecendo os legítimos direitos do povo, não usou e não usarão a força contra a população”, dizia o documento, esclarecendo, ainda, que “a liberdade de expressão com meios pacíficos estava garantida a todos”.

Apesar dessa promessa, o serviço de Internet, interrompido na semana passada, ainda não foi restaurado. Também foram canceladas as viagens de trens, possivelmente para impedir a chegada de manifestantes ao Cairo para os protestos. Enquanto isso, parece claro que os altos comandos militares dos Estados Unidos, que receberam em Washington alguns de seus colegas egípcios na semana passada, coincidem com a postura cautelosa da Casa Branca.

“Eu diria que as opiniões da administração Obama se consolidam na direção de apoiar uma transição administrada para eleições democráticas com o patrocínio e a proteção das Forças Armadas egípcias”, escreveu em seu blog o coronel da reserva Pat Lang, ex-analista sobre Oriente Médio na Agência de Inteligência de Defesa do Pentágono. “Podem ficar certos de que as linhas de comunicação entre o Pentágono e o Estado Maior egípcio estão bem abertas”, afirmou.

Os últimos esforços de Mubarak para salvar seu regime, criando um novo governo supostamente com enfoque renovado, são vistos por especialistas em Oriente Médio como medidas escassas e tardias. “Este não é um governo de reformadores”, escreveu Blake Hounshell, editor do site ForeignPolicy.com, que trabalhou no Centro Ibn Khaldun para Estudos sobre Desenvolvimento, no Cairo. “De fato, os reformadores não estarão no novo governo” de Mubarak, disse. Blake afirmou que os chamados dos Estados Unidos e da União Europeia para uma “transição”, combinados com as declarações das forças Armadas, tinham um significado claro: “Adeus, Hosni”. Entretanto, Washington resiste em pedir explicitamente a saída de Mubarak, apesar de alguns funcionários e analistas independentes temerem que, se não o fizer, a situação possa se agravar.

“Não podemos ser vistos como quem escolhe um ganhador. Não podemos ser vistos como quem diz a um líder que vá”, disse Ben Rhodes na reunião do dia 31, quando muitos teriam pedido – segundo o blog Cables, do ForeignPolicy.com – que Obama solicitasse a renúncia de Mubarak. “O que tentávamos dizer-lhes é que a mudança estava próxima e a questão era se queríamos intervir nessa mudança de forma construtiva, ou não”, disse ao Cables a copresidente do bipartidário Grupo de Estudo sobre o Egito, da Fundação Carnegie para a Paz Internacional, Michelle Dunne.

Vários analistas que simpatizavam com a oposição egípcia também exortaram Obama a agir com cautela. “Há uma lição a ser aprendida com a Tunísia e a política externa dos Estados Unidos na região nos últimos anos, e estes acontecimentos históricos e locais no Egito não devem passar a ser dos Estados Unidos”, escreveu Shibley Telhami, especialista em Oriente Médio para o Brookings Institute, no site Politico.

Shibley, especialista em opinião pública árabe, teria sido convidada para a reunião da Casa Branca, mas não foi possível comparecer. Se os Estados Unidos tomarem uma posição expressa, “poderá ser interpretado como uma tentativa de controlar os acontecimentos, adiantando-se à vontade popular e desenhando um resultado de acordo com seus interesses”, alertou. Envolverde/IPS

*O blog de Jim Lobe sobre política externa está em http://www.lobelog.com


(IPS/Envolverde)

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