A universidade do futuro é dos velhos

Com base em uma investigação realizada nos últimos 20 anos com americanos acima de 50 anos de idade, cientistas da Universidade de Stanford, especializados em estudos da longevidade, sustentam que a aposentadoria prejudica a memória e, portanto, acelera a decadência do indivíduo. A razão: a falta de uso tiraria o vigor do cérebro. Semelhantes conclusões são encontradas em pesquisas realizadas em outros 12 países europeus.

Esses dados foram divulgados na semana passada, no mesmo dia em que o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) revelou uma projeção sobre o envelhecimento da população brasileira- defendendo que o país deveria mudar urgentemente sua visão sobre o que é ser velho. Num futuro breve, a idade média do nosso trabalhador será de 45 anos. Na apresentação dos dados, os pesquisadores daquele instituto relacionaram a aposentadoria como mais um estímulo de problemas como a depressão e o alcoolismo.

A bomba da aposentadoria é mais um daqueles temas que estão passando longe, por motivos óbvios, dos discursos dos candidatos à presidência. No entanto, ficará- na marra- na agenda do país.

Para ser mais preciso, quando isso aparece no debate eleitoral é uma ilusão, para dizer o mínimo. José Serra promete um reajuste de 10% no valor das aposentadorias e mais um aumento do salário mínimo dos brasileiros, para R$ 600,00. Todos os especialistas consultados por esta coluna me informam que, apenas na previdência, essas medidas custariam por baixo mais R$ 11 bilhões -o equivalente a todo o valor do programa Bolsa Família. Isso representaria mais uma pancada num déficit da previdência projetado, para o próximo ano, de R$ 41 bilhões.

Lembremos que ele já tinha proposto duplicar o Bolsa Família, dando-lhe, além disso, um 13º.

Some-se o buraco provocado pelas aposentadorias dos servidores, estimado em R$ 27 bilhões.

Dilma Rousseff fica espertamente calada diante das promessas de seu concorrente, José Serra, embora saiba que essa conta não fecha. Até porque está longe do topo das prioridades do PT mexer em interesses corporativos. O PT, afinal, é um dos responsáveis pelo buraco da aposentadoria dos servidores federais, por deixar de aprovar lei aprimorando sua contribuição.

Somos um país em que quase ninguém se escandaliza com o fato de que professores universitários se aposentam ainda jovens. Entre nas grandes universidades americanas, incubadora da maioria dos vencedores do Prêmio Nobel, e veja o número de mestres e pesquisadores ainda trabalhando com mais de 80 anos de idade.

Há uma discussão ainda mais complexa do que as questões fiscais, embutida na projeção do Ipea - de que, em breve, a idade média do trabalhador será de 45 anos- e é uma discussão essencialmente educacional.

Isso significa que haverá bem menos jovens e que as empresas terão de saber lidar com empregados mais velhos. Serão demandados programas ainda mais intensos de reciclagem profissional. Não se vai poder mais parar de estudar.

As boas empresas vão se assemelhar a escolas, com investimentos crescentes em universidades corporativas.

Já há sinais palpáveis desse movimento. Além da disseminação das chamadas universidades corporativas, nada cresce mais no Brasil do que ensino a distância, cujos alunos, em média, têm nota mais alta do que a dos cursos exclusivamente presenciais. A explicação: são alunos mais velhos e responsáveis.

Outro sinal é a propagação da matrícula no período noturno. Em São Paulo, uma universidade está oferecendo cursos de madrugada: as aulas começam às 23h e acabam quase às 2h.

Estamos vivendo na era da aprendizagem permanente. Estuda-se o resto da vida nos mais variados lugares. Daí que, podem apostar, a universidade do futuro, nas quais não se vai mais distinguir o virtual do presencial, será dominada pelos velhos.

PS - Para mim, esse sonho da aposentadoria é um pesadelo. É o que indica aquelas pesquisas sobre a memória. Deveríamos ensinar à criança, desde o berço, que a vida só se torna uma bela aventura, com sentido, se não pararmos de ter curiosidade, de aprender e de criar. Fazer planos para não fazer nada é a morte.


(Envolverde/Aprendiz)

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