Adriana não é Adriana

Os peitos de Adriana, cheios de leite, se apoiam nas grades da cela para que seu filho, do outro lado, possa se alimentar, amparado por uma agente penitenciária. Adriana foi presa enquanto vendia drogas em uma das milhares 'bocas' que funcionam debaixo do nariz do poder público.
Provavelmente, como mostram as estatísticas, Adriana não foi julgada e não é representada por advogados. Foi presa e levada para um presídio. Como disse uma comerciante ao ser pega embriagada após furar uma blitz no Largo do Machado: 'Neste país, só pobre e favelado ficam presos. Sou rica e influente'.
Adriana é de família humilde. O senso comum diz que isso não justifica, porque fulano também é e nem por isso blá, blá, blá. O senso comum também não entende como alguém nascido em família com recursos possa ser criminoso. Na verdade o senso comum é BURRO e preconceituoso.
O bebê de Adriana não é o culpado pela justiça seletiva e sente fome. Para o bebê, as grades da cadeia se parecem com as grades do berço que talvez nem tenha. Grades e pobres convivem desde que o primeiro homem branco pisou por aqui e aculturou os nativos.
Adriana sai do presídio e segue para seu apartamento, no Leblon. Dentro de seu luxuoso carro, na companhia de advogados, desdenha de Adriana e de todas as outras mães que também estão presas e seus filhos sozinhos.
A sociedade, na sua hipocrisia, porque calça o mesmo sapato que os homens brancos calçavam quando pisaram pela primeira vez por aqui, se acostumou com as aberrações sociais e, uma parcela, financia e desfruta de seus privilégios.
Adriana está em prisão domiciliar porque tem filho menor de doze anos. e a lei beneficia mães infratoras neta situação. Não há nada de errado nisso, segundo a justiça branca e rica. A lei só vale para Adriana do Leblon, a outra vai continuar amamentando apoiando seus peitos nas grades da cadeia.
Adriana está presa porque, provavelmente, vendia drogas para os amigos e filhos maiores de doze anos de Adriana. Adriana foi solta porque desviou bilhões de reais, suficientes para comprar um lote da justiça.

Ricardo Mezavila é escritor

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