Coach e Uber, as profissões do momento

Era próximo das 17:00 de uma terça-feira, dia do meu rodízio, e após uma longa reunião com um cliente, a vontade era de chegar em casa o quanto antes. A noite ainda prometia outro compromisso corporativo.
Próximo à zona sul da capital paulistana, tinha a intenção de pegar o trem, que margeia o rio Pinheiros, para posteriormente fazer uma baldeação, como se chama a mudança de linha de transporte, para a Linha Amarela do Metro, posteriormente, a Azul, e encerrar com um ônibus para a Casa Verde, onde moro.
Diante de tão complexo roteiro e da ausência de taxi próximo, resolvi solicitar uma viagem pelo aplicativo Uber. Em poucos minutos, a mensagem indicando três veículos próximos apareceu, para em seguida a informação que em quatro minutos, o meu chegaria.
Não me recordo ao certo o carro, mas sua cor preta brilhava, tudo conforme indicado. O motorista, muito educado, trajava um terno com cores sobrias e sem gravata, parecia ter um pouco menos de 50 anos.
Como bom nordestino conversador, para puxar conversa comentei: “que sorte a minha, pensei que seria mais difícil pegar um Uber aqui”. Com um sorriso entre os dentes, ele não titubeou: “sorte foi a minha, acabei de ‘entrar’ e já peguei esta ‘corrida’ que é muito boa”.
“Mora por aqui?” perguntei. “Que nada, sou coach executivo, esta é minha profissão ao longo do dia. Acabei de ministrar minha última sessão hoje. Já agora, até por volta das 23:00, trabalho como Uber. Pois é, estou na luta”, arrematou com a voz animada.
Meio surpreso com a resposta, a curiosidade me invadiu: “Nossa, como é isso? Já faz tempo que atua junto a estas duas frentes?”. “Sabe meu amigo, sou engenheiro com pós graduação e tudo. Trabalhei durante quase 30 anos em grandes organizações. Em 2015, a crise bateu a porta da minha empresa e acabei dispensado.” respondeu André, que acabara também de revelar seu nome.
“Já quase cinquentenário, encontrei grandes dificuldades em me realocar. E cheguei a me preocupar. Foi quando vi uma propaganda sobre um curso para me tornar coach. Fui lá assistir. Cá entre nós, no meio de tanta molecada disposta a se enveredar por este caminho, boa parte deles sedento por aplicar metodologias mil e modelos mentais diversos, identifiquei uma grande oportunidade. Afinal meus anos de experiências não se aprendem na escola, tão pouco em um curso de poucas horas, e sim vivendo. Naquele ambiente, modestia a parte, me sentia único. Compartilha-las poderia realmente me ajudar a ser um instrumento transformador junto a outros profissionais.”
Confesso que o discurso, ainda que parecesse um pouco ensaiado, me fazia algum sentido, sobretudo pelas empresas que faziam parte de seu currículo, descrito no material que carregava consigo no carro e que pude ler. Ainda assim, me soava inusitada esta simultaneidade de papeis, Coach e Uber.
Ainda assim, antes que fizesse a pergunta seguinte, coube a ele complementar: “Estruturei um plano de negócios e identifiquei os meios pelos quais conseguiria bancar parte dos meus custos. Foi quando comecei a dispor de parte do meu tempo diário para trabalhar para a Uber. Na verdade, hoje atuo junto a três empresas similares, sendo assim, entre um cliente ou outro com quem desenvolvo Coach, fico a disposição para o transporte de pessoas.”
Seu discurso realmente parecia consistente, e o que mais me parecia interessante era o fato dele dar a mesma importância as duas funções. Enquanto Coach ou Uber, parecia prestar um serviço altamente qualificado, por ser um profissional, com muito experiência no mercado, com sólida formação acadêmica, e que não dispensava um bom diálogo sobre tantos assuntos presentes em nosso dia a dia. Uma conversa realmente enriquecedora.
“Sou um profissional desse ‘novo mundo’, que se permitiu utilizar de todo expertise desenvolvido ao longo de anos a fio em várias empresa para fazer o que mais gosta, compartilhar conhecimentos e levar, ou ajudar, as pessoas para onde elas querem ir. Neste caso, não apenas profissionalmente, mas também fisicamente”.
Ao final da viagem, trocamos nossos cartões na certeza que dificilmente voltaríamos a nos encontrar naquela condição.

 

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