Aquilo que chamamos de imprensa

Não sou jornalista, sou das letras, o que me aproxima, de alguma forma, dessa fantástica profissão. Sempre tive fascínio pelas redações dos jornais. A pressa e a eficiência em fechar a edição do dia é como “cachaça” na adrenalina, o combustível utilizado para que a notícia ganhe as ruas com comprometimento e ética, que são base de qualquer informativo que pretenda servir de utilidade pública e fonte isenta de informação.

Estou escrevendo sobre esse tema inspirado em um debate que assisti, ao vivo, entre jornalistas da época em que não existia a velocidade que a informação adquiriu com, principalmente, o advento da Internet. Escrever uma boa matéria demandava tempo e dedicação. Hoje, várias matérias são escritas em algumas horas, mas sem o aprofundamento investigativo de antes e, consequentemente, menos qualidade e confiabilidade.

Atualmente a mídia é escrava da velocidade das horas, está presa ao subjetivo do tempo, à poeira que fica na atmosfera depois que cai um míssil. Com o excesso de informação, praticar o jornalismo passa a ser uma tarefa preguiçosa para muitos. A matéria prima que se transforma em notícia hoje está na seta do mouse. Com o dedo mínimo esquerdo pressiona-se a tecla CTRL e com o indicador a letra C, depois é só manter o dedo mínimo pressionando a tecla CTRL e mover o indicador uma tecla à direita e pressionar a letra V. Pronto! Matéria publicada!

 As redações dos jornais de hoje são silenciosas e com menos pessoas. Quem escreve para os poucos jornais que ainda circulam, muitos fecharam e outros estão demitindo, o faz de sua própria residência e envia seus artigos via e-mail. O jornalista Ricardo Kotscho, um dos debatedores, que sempre teve como lema: “lugar de repórter é na rua”, lembrou que as salas das redações, às vezes com trezentas pessoas trabalhando, eram barulhentas pelo som da antiga Olivetti, máquina de escrever aposentada, e das pessoas conversando, discutindo as pautas do dia. No fim do expediente a sala estava coberta por uma densa fumaça que saía dos cigarros. Era o crepúsculo de um dia produtivo e a satisfação do dever cumprido.

Sempre fui leitor dos cadernos de cultura, principalmente, o caderno B do Jornal do Brasil. Aprendi muito com Carlos Drummond e seu sucessor, Affonso Romano. As crônicas tinham destaque e, aos domingos era certo, no café da manhã, no botequim ou nas areias da praia, tinha sempre alguém segurando, com as duas mãos, as folhas do jornal e lendo em voz alta aquela crônica que o outro precisava ouvir.

A mídia hoje, opinião de um leigo, morre de sede na tempestade, não sabe como utilizar as pérolas para fazer um colar, não sabe o que fazer de útil com as ferramentas, que são boas, isso é indiscutível, mas são utilizadas nas inutilidades que compõe o caos do contexto midiático. O tapete vermelho foi enrolado, o navio fugiu dos ratos, o “planeta diário” sucumbiu à invasão da banalidade do crime, a mídia alternativa e mascarada ganhou espaço, mas não agrega valor ao conteúdo.

Hoje sou leitor, entre outros canais, de O REBATE, jornal quase centenário, que tenho orgulho em colaborar em algumas edições, porque em suas páginas ainda existe o oxigênio da liberdade de pensamento. Escrevo pelo prazer literário, mas também pela oportunidade de expressar minha opinião.

Queria muito dormir e sonhar que uma missão de paz chegou ao Brasil e resgatou as colunas escritas por Armando Nogueira, Nelson Rodrigues, Otto Lara Rezende, Rubem Braga, Barbosa Lima Sobrinho, Rachel de Queiroz, Millôr Fernandes, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Clarice-Vinícius-Cecília. Quero imaginar uma crônica boêmia em que eu possa ser personagem, servindo vodka ou acendendo cigarros, mas participando de uma plêiade de imortais que fazem falta na polinização do terreno daquilo que chamamos de imprensa.

Ricardo Mezavila - Escritor

publicidade
publicidade
Crochelandia

Blogs dos Colunistas

-
Ana
Kaye
Rio de Janeiro
-
Andrei
Bastos
Rio de Janeiro - RJ
-
Carolina
Faria
São Paulo - SP
-
Celso
Lungaretti
São Paulo - SP
-
Cristiane
Visentin

Nova Iorque - USA
-
Daniele
Rodrigues

Macaé - RJ
-
Denise
Dalmacchio
Vila Velha - ES
-
Doroty
Dimolitsas
Sena Madureira - AC
-
Eduardo
Ritter

Porto Alegre - RS
.
Elisio
Peixoto

São Caetano do Sul - SP
.
Francisco
Castro

Barueri - SP
.
Jaqueline
Serávia

Rio das Ostras - RJ
.
Jorge
Hori
São Paulo - SP
.
Jorge
Hessen
Brasília - DF
.
José
Milbs
Macaé - RJ
.
Lourdes
Limeira

João Pessoa - PB
.
Luiz Zatar
Tabajara

Niterói - RJ
.
Marcelo
Sguassabia

Campinas - SP
.
Marta
Peres

Minas Gerais
.
Miriam
Zelikowski

São Paulo - SP
.
Monica
Braga

Macaé - RJ
roney
Roney
Moraes

Cachoeiro - ES
roney
Sandra
Almeida

Cacoal - RO
roney
Soninha
Porto

Cruz Alta - RS