UM TREM DE MADEIRA COM DESTINO À ITAPERUNA -RJ

Sim, essa era uma viagem e tanto! O meu avô Júlio vinha passear em Macaé e, na volta, eu ia junto para Itaperuna passar uns dias na casa dele. O retorno era em um trem de madeira, puxado por uma Maria Fumaça cuspideira de fuligem que, além de balançar muito, fazia um monte de paradas para baldeações e comilanças. E aí estava a grande festa da viagem!
Em cada estação que parávamos, nos eram apresentados um monte de petiscos como: peixe-frito, pastel, milho-cozido, pamonha, papa-de-milho, preá frita, laranja, vara de mexericas, caldo-de-cana, e mais um tanto de outras coisas pedindo para serem mastigadas. Ah! Também eram vendidos muitos passarinhos como: canários, papa-capins, melros, tizis, bicos-de-lacre, avinhados etc... E a viagem, em virtude de tantas paradas para alimentação, manutenção, interrupções na linha, abastecimento de água, fazia com que este percurso tivesse a duração de um dia inteiro. Isto sem considerar que, a distância que separava Macaé de Itaperuna, naquela época, parecia muito maior que agora - velhos e bons tempos! E, para tornar essa grande aventura mais agradável, a nossa maior diversão era mesmo mastigar, mastigar e mastigar! E pra mim, mastigador nota dez, o final era sempre uma colicantíssima dor de barriga, daquelas que faz arrepiar até a alma, suar nos dentes e chorar pelos cabelos! Aí, entrava em cena o vaso sanitário do trem, com uma dura tampa de madeira de cor esquisita, vazado direto até aos trilhos, onde todo o produto final da minha exagerada gulodice caía diretamente na linha. E, a partir deste ponto, começava o meu inferno astral - o medo de vazar também por aquele buraco e cair, junto com o cocô, entre as pedras que sustentavam os trilhos. Mas, sempre fui valente, nunca deixei de comer por intimidação daquele nojento vazo. E lá ia eu com o meu avô, debruçado em uma janela ainda isenta de pedradas, a apreciar as coisas belas da viagem - o ziguezaguear de alguns rios que margeavam o caminho e o imenso verde que compunha a maior parte da paisagem.
E, depois de tanta aventura, chegávamos naquele trem sorridente e lerdo em uma cidade quentíssima que eu amava e ainda amo muito, pois, lá estavam os meus avós paternos e tias que, sem dúvida nenhuma, sabiam como me agradar e muito! Ainda hoje consigo tirar de dentro das minhas lembranças aquele longo piuiiiii que tanto se repetia no percurso, produzido por aquela grande engenhoca de ferro que, cuspindo vapor pelas ventas, nunca deixava de chegar àquele destino tão ansiosamente esperado pelo meu coração de criança saudosa. Bons tempos! Mágicos tempos!
A benção, meus avós!
Que saudade!

Luiz Cláudio Bittencourt 2002

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